A
REBELIÃO DE ABSALÃO
TEXTO
BÍBLICO:
“E desta maneira fazia Absalão a todo o Israel que vinha ao rei
para juízo; assim, furtava Absalão o coração dos homens de Israel.” (2 Sm 15.6)
VERDADE PRÁTICA
A rebelião revela uma
natureza depravada e apóstata contra DEUS, visando apenas propósitos que
contrariam a perfeita vontade divina.
A
história de Absalão, filho do rei Davi, é uma das mais dramáticas e trágicas do
Antigo Testamento. Ela narra uma rebelião familiar que culminou em perseguição,
guerra civil e a morte dolorosa de um príncipe.
A
REVOLTA DE ABSALÃO
A
revolta de Absalão não surgiu do nada, mas foi o clímax de uma série de eventos
turbulentos na família de Davi. O ponto de partida foi o estupro de sua irmã
Tamar por seu meio-irmão Amnon. Absalão, vingativo e furioso com a inércia de
Davi, esperou dois anos para matar Amnon durante uma festa. Após o assassinato,
Absalão fugiu para Gesur, a terra de seu avô materno, onde permaneceu por três
anos.
Ao
retornar a Jerusalém, Absalão começou a consolidar seu poder. Ele se
posicionava à porta da cidade, interceptando pessoas que buscavam justiça do
rei. Com falsas promessas de que seria um juiz mais justo, ele "roubou o
coração" dos israelitas. Absalão era carismático e de uma beleza notável,
o que o ajudou a conquistar a confiança e lealdade do povo.
A
rebelião foi oficialmente declarada em Hebrom, a primeira capital de Davi, onde
Absalão foi aclamado rei. A trama se fortaleceu quando Aitofel, um dos
conselheiros mais sábios de Davi, se juntou a Absalão.
A Perseguição a Davi
Com
a notícia da revolta se espalhando, a situação de Davi se tornou insustentável.
Em vez de lutar, ele decidiu fugir de Jerusalém para evitar um banho de sangue
na cidade. O rei e seus seguidores atravessaram o vale do Cedrom em direção ao
deserto. Essa fuga humilhante é um dos momentos mais sombrios da vida de Davi,
refletido em textos como o Salmo 3, onde ele expressa sua angústia e sua fé em
Deus.
A
perseguição a Davi foi marcada por momentos de provação:
- Ataques
e humilhações: Ao
fugir, Davi foi amaldiçoado e apedrejado por Simei, um homem da casa de
Saul, que via na sua queda a vingança por sua família.
- A
traição de Aitofel: O
conselho de Aitofel a Absalão era o de perseguir e matar Davi
imediatamente, um plano estrategicamente sólido.
- A
lealdade de Husai:
Davi, entretanto, enviou seu amigo Husai para se infiltrar no exército de
Absalão. Husai, agindo como conselheiro, convenceu Absalão a adiar o
ataque, dando a Davi tempo precioso para se reorganizar e preparar suas
tropas.
A
perseguição culminou na Batalha na Floresta de Efraim. O exército de
Davi, liderado pelo general Joabe, era menor, mas mais experiente. A geografia
acidentada da floresta, que era o terreno de Davi, se mostrou crucial para a
vitória.
Durante
a batalha, Absalão tentou fugir montado em sua mula. No entanto, sua famosa
cabeleira, que era motivo de orgulho, ficou presa nos galhos de um grande
carvalho. Ele ficou pendurado, vulnerável, enquanto a mula seguiu em frente.
Um
dos soldados de Davi viu a cena e avisou Joabe. Apesar de Davi ter dado ordens
expressas para que Absalão não fosse morto, Joabe, ciente de que a rebelião só
terminaria com a morte do príncipe, o desobedeceu. Ele transpassou o coração de
Absalão com três dardos, e seus escudeiros deram os golpes finais. Seu corpo
foi jogado em uma grande cova na floresta e coberto com um enorme monte de
pedras, um fim desonroso para um príncipe que almejava o trono.
A
notícia da morte de Absalão trouxe um misto de alívio e profunda dor para Davi.
Ao invés de celebrar a vitória, o rei se comoveu amargamente, lamentando:
"Meu filho Absalão! Meu filho, meu filho Absalão! Quem me dera ter morrido
em teu lugar! Absalão, meu filho, meu filho!" Sua dor e sofrimento
marcaram o fim de um capítulo trágico em sua vida e no reino de Israel.
I.
O HOMEM ABSALÃO
1.
Descrição
O
nome Absalão, no hebraico, significa “o pai é da paz” (2Sm.3:3). Ele era o
terceiro filho de Davi com Maacá, filha de Talmai, rei de Gesur, que nascera em
Hebrom (2Sm.3:2,3) – Davi teve seu primeiro filho com Ainoã, Amnon, o
primogênito; o segundo com Abigail, Quileabe.
Absalão
era um homem de excelente aparência física (2Sm.14:25); tinha tudo para ser um
excelente rei, e o povo o amava; tinha uma personalidade forte e capacidade
para furtar o coração do povo (2Sm.15:1,6); porém, tinha um caráter desajustado
e faltava-lhe o domínio próprio, qualidades necessárias a um bom rei. Como diz
o ditado popular, nem tudo que reluz é ouro - sua aparência, capacidade e
posição não eram suficientes para suprir esta falta de integridade pessoal.
Absalão
pecou e continuou na transgressão. Apesar de se apoiar totalmente nos conselhos
de outrem, não foi suficientemente sábio para avaliar o mérito dessas
orientações. Ele não foi capaz de dizer: “eu estava errado, preciso ser
perdoado!”.
Muitos
hoje se identificam com Absalão; muitos estão no caminho da autodestruição.
Deus nos oferece o perdão, mas não podemos experimentá-lo até que tenhamos
verdadeiramente admitido e confessado nossos pecados a Ele. Absalão rejeitou o
amor de seu pai e, em última análise, até mesmo o de Deus. Muitas vezes
negligenciamos o acesso ao amor do Senhor através da porta do perdão.
2.
Em que consistia a causa da revolta de Absalão?
Muitas
vezes os erros dos pais refletem na vida de seus filhos. Davi podia ver uma
repetição dolorosa e ampliada de muitos de seus pecados cometidos no passado.
Deus predissera que a família de Davi sofreria por causa dos pecados que ele
cometera contra Urias e Bate-Seba. Sua queda enfraqueceu espiritual e
moralmente sua família.
Tudo
começou com o estupro; Tamar, irmã de Absalão, foi estuprada por Amnom
(2Sm.13:14,15). Este foi encorajado pelo primo Jonadabe a cometer este terrível
pecado. Geralmente, estamos mais vulneráveis aos conselhos de nossos parentes
porque estamos muito próximo deles. Entretanto, devemos antes nos assegurar de
ter avaliado cada item desses conselhos de acordo com os padrões de Deus, mesmo
que estes venham de ente querido.
Amnom
sentia uma paixão cega pela sua meia-irmã, e não amor. É bom ressaltar que o
amor é muito diferente de paixão. Embora afirmasse sentir amor, na verdade
estava possuído pela paixão cega.
O
amor é paciente, mas a paixão exige a satisfação imediata.
O
amor é gentil, a paixão é cruel.
O
amor não exige que tudo seja exatamente desejos obstinados, a paixão sim.
Podemos
conhecer as características do verdadeiro amor em 1Corintios 13. A princípio, a
paixão pode parecer amor; porém, ao se manifestar fisicamente resulta em
aversão a si mesmo e ódio pela outra pessoa.
Depois
que Amnom estuprou Tamar, seu desejo se transformou em ódio (2Sm.13:15). O
sentimento daqueles que não podem esperar, não é o verdadeiro amor. Amnom
tentou se livrar da meia-irmã, mas Tamar se recusou a sair (2Sm.13:15,16). Por
fim, expulsou-a à força, na esperança de que ficasse “longe dos olhos, longe do
coração” (2Sm.13:17).
As
roupas de luto de Tamar chamaram a atenção de Absalão para o ocorrido
(2Sm.13:20). Absalão tentou confortar Tamar e convencê-la a não transformar o
incidente em um escândalo público. Absalão disse a Tamar que o crime era apenas
um assunto de família; porém, os padrões de Deus para a conduta moral não ficam
suspensos quando tratamos de assuntos familiares. Desonrada e, portanto,
indesejável como noiva, ainda que não por culpa sua, “ficou Tamar [...]
desolada em casa de Absalão, seu irmão” (2Sm.13:20); provavelmente, ela morreu
solteira.
Davi
irou-se com Amnom por ter estuprado Tamar, mas não o castigou como deveria ter
feito, provavelmente porque: não queria punir seu filho primogênito e,
portanto, o primeiro na linha sucessória do trono (1Cr.3:1); a lembrança de seu
próprio pecado ainda era recente na memória de todos. Ele sabia qual era seu
dever, mas estava de mãos atadas. O pecado deliberado nos priva da liberdade
moral, da possibilidade de falar sem impedimento e de dar testemunho.
Absalão
esperou por uma oportunidade de se vingar; secretamente, planejou vingar-se de
Amnom, o que realmente fez dois anos mais tarde (2Sm.13:23-33). Como era
costume, ele ofereceu uma grande festa na época da tosquia, quando estava nos
arredores de Betel. Davi não aceitou o convite insistente do filho, talvez por
não desejar lhe dar mais despesas. Todos os filhos do rei, porém, compareceram
à festividade, inclusive Amnom que, como primogênito, representou o pai.
Mediante um sinal combinado, os servos de Absalão mataram, covardemente, Amnom.
Os outros príncipes fugiram de volta a Jerusalém tomados de medo. Absalão fugiu
para Gesur, na Síria, onde sua mãe havia morado e Talmai, seu avô materno, era
rei (2Sm.13:37-39; 1Cr.3:2). Ele passou três anos em Gesur (2Sm.13:38).
Amnom
era o filho mais velho e, portanto, o próximo na linha de sucessão ao trono.
Depois da morte dele, Absalão começou a sonhar em tomar o trono para si.
Joabe
sabendo que Davi estava com saudade de Absalão, elabora uma estratégia para
trazê-lo de volta. Davi autoriza a volta de seu filho, mas ao retornar, fica
sem falar com Absalão por aproximadamente dois anos (2Sm.14:1-28). Isso
resultou em grande ódio e amargura no seu coração para com o pai.
Nada
justifica o procedimento errado dos filhos, mas, por vezes, os pais contribuem
para que eles tomem o caminho da rebeldia deliberada. O apóstolo Paulo é
enfático:” E vós, pais, não provoqueis a ira a vossos filhos, mas criai-os na
doutrina e admoestação do Senhor” (Ef.6:4).
Absalão
foi reintegrado, ou seja, recebeu o perdão do rei (2Sm.14:33), mas logo
movimentou-se para usurpar o trono de seu pai. Sem saber a extensão da amargura
e das ambições de Absalão, Davi sem perceber abre a porta para uma rebelião.
Pior ainda, ao reintegrar Absalão à corte, faz vista grossa para a culpa dele
e, por omissão, é conivente com o assassinato de Amnom. Isto custou muito caro
a Davi.
II.
A REVOLTA DE ABSALÃO
Adotando
costumes pagãos (talvez instruído pelo seu avô Talmai), Absalão apareceu em
público em uma carruagem escoltada por um cortejo de corredores. Ele assegurou
a simpatia das dez tribos do Norte fazendo-se passar por seu defensor. Dentro
de quatro anos, sob o pretexto de cumprir um voto, Absalão foi a Hebrom e
reivindicou o título de rei (2Sm.15:10); em seguida, apoderou-se de Jerusalém
para ser sua capital.
1.
A fraqueza do reinado de Davi
A
maior fraqueza do reinado de Davi foi sem dúvida a falta de cuidado com a sua
família. Isto era resquício do pecado cometido; como falou Natã, sua vida seria
marcada por inúmeros problemas (2Sm.12:10,12), inclusive problemas familiares.
Nenhum
sucesso na vida compensa o fracasso no lar, na família. Davi foi cuidadoso em
construir um reino, trabalhou arduamente para isso. Como líder e administrador
da monarquia, ele se saiu muito bem, todavia, quase nada vemos ser feito dentro
de casa. Havia um dualismo reino-família que mutuamente pareciam ser
excludentes.
Portanto,
os maiores inimigos de Davi não foram as nações vizinhas, mas uma anarquia
generalizada que se instaurou dentro de sua própria casa: Amnon estupra sua
irmã; Absalão mata seu irmão; as concubinas do rei são possuídas sexualmente
pelo seu próprio filho; Adonias usurpa o trono etc. São todos fatos de certa
forma ligados à vida familiar.
Uma
família desestruturada assemelha-se a um trem que descarrilou; é uma tragédia.
O que podemos dizer com segurança é que Davi se saiu muito bem como rei, mas o
mesmo não pode ser dito como pai. Davi estruturou o seu reino, mas deixou sua
casa ruir. Não adianta ganhar tudo e perder a família. Já ouvi alguém dizer
acertadamente que nenhum sucesso justifica o fracasso da família.
O
apóstolo Paulo bem disse em 1Corintios 16:19, quando se refere a um casal de
crentes da Igreja Primitiva: “... muito vos saúdam Áquila e Priscila e, bem
assim, a Igreja que está na casa deles”. A nossa casa deve ser uma extensão do
Reino de Deus e o Reino de Deus precisa estar dentro de nossa casa. Um não pode
existir sem o outro. Mas, infelizmente, nem sempre a nossa casa tem sido um
reflexo da igreja.
Quantas
famílias estão caindo como a de Davi porque não tem trazido para dentro de casa
os padrões ideais do Reino de Deus! As estatísticas atestam que o número de
divórcios entre os cristãos já é o mesmo praticado pelo mundo ímpio. Muitos
marginais, que estão soltos e nos presídios, alguns de alta periculosidade,
saíram de lares cristãos. Que os erros da Davi possam nos trazer lições que nos
ajudem na formação de nossos familiares.
2.
O Absalão político
Após
ter reconquistado o favor de Davi (2Sm.14:33), Absalão conspirou contra o seu
próprio pai, que lhe deu o perdão e, indevidamente, fez vista grossa do seu
crime contra o irmão. Para ganhar a confiança do povo, Absalão agiu como os
piores políticos: com sagacidade, dissimulação e falsas promessas. Absalão se
ocupou de ganhar a confiança dos israelitas pouco a pouco. Com isso o número de
seus apoiadores aumentou grandemente.
Nesse
tempo, Absalão alegou que precisava ir até Hebrom para cumprir um voto ao
Senhor. Tudo isso fazia parte de seu plano, e a conspiração contra o trono de
Davi ganhou força. Ele trabalhou incansavelmente durante quatro anos para pôr
seu plano em prática – a revolta contra seu pai. De duas maneiras Absalão
procurou impressionar o povo: primeira, se exibindo com carros, cavalos e
homens que corriam adiante dele; segunda, a lisonja.
Com
bem diz o Pr. Osiel Gomes, Absalão é visto como um ator que sabia fazer muito
bem o seu show. De modo sutil, astuto, conseguiu chamar a atenção do povo. É
claro, ele trabalhou publicamente sua imagem e, para isso, começou com algo
inovador, exibindo sua realeza com carrões e corredores diante de si. Com os
batedores na frente, Absalão vinha lentamente no seu carro chamando a atenção
de todos para o poder que exibia como príncipe. Este homem procedeu astutamente
trabalhando nos pontos em que o reinado de Davi estava falhando. Vejamos:
Ele
exibia a sua imagem. Ele
era daquele tipo que apenas queria impressionar o povo, mostrar-se grandioso.
Ele
atendia as pessoas bem cedo. Acredita-se
que a corte de Davi não atendia bem cedo as pessoas, o que gerava uma falha.
Então Absalão se coloca como uma pessoa diligente. Os que trilham o caminho de
Absalão sempre se apresentam como eficientes em tudo; querem se mostrar mais
atuantes do que o líder da igreja.
Ele
buscava um lugar estratégico para ficar. Ele queria que todos o vissem, por isso postava-se à
porta da cidade. Quem tem o espírito de Absalão quer ser sempre bem-visto, faz
seu trabalho para ser visto, aplaudido, não se esquecendo de que por trás de
tudo isso há um interesse escuso, o de chegar ao poder. Esse procedimento fere
o que Paulo ensinou: que não se deve servir à vista para agradar aos homens
(Ef.6:6).
Ele
queria deixar uma boa impressão.
Isso ele fazia demonstrando total atenção aos forasteiros que chegavam à
cidade, especialmente aqueles que vinham com algum problema ou queixa para
resolver.
Ele
apontava fraquezas no reinado do pai. Ele
dizia para as pessoas: “teus planos e negócios são bons, mas não há da parte do
rei ninguém que te ouça”. Podemos crer que tal informação não procedia, pois
vemos em 2Sm.14:4-7 que o rei atendeu facilmente a mulher de Tecoa.
Ele
apresentava-se como uma pessoa capaz. Isso
pode ser provado quando ele diz: “Ah, quem me dera ser juiz na terra”. Com tal
expressão afirmava ao povo que tinha muitas habilidades para julgar.
Ele
portava-se como um rei. Absalão
recebia os que entravam na cidade apertando a mão de cada um e, aos que traziam
seus pedidos, com beijo. Típicas atitudes de políticos mal-intencionados. Na
mente e no coração desse rebelde havia um sentimento de que ele já era rei, o
que lhe faltava era o trono.
Muito
tem se questionado por que Davi não reagiu diante dessa ação do seu filho, pois
era clarividente o que ele estava fazendo. Alguns supõem que o rei não agiu
porque, diante de todo o seu trabalho, seu histórico de vida, julgou por si
mesmo que a lealdade dos seus súditos seria algo firme, pois tinha conquistado
o coração de cada um, e que não se deixariam levar pelo comportamento
disfarçado do seu filho rebelde.
Um
líder nunca pode descansar e achar que tudo está bem; antes, deve procurar orar
e vigiar constantemente para não dar brecha ao inimigo; o senso de confiança,
segurança demasiada é sempre perigoso.
3.
Proclamando-se rei (2Sm.15:10)
Como
resultado de sua politicagem mal-intencionada, Absalão enviou mensageiros às
tribos de Israel para anunciar que ele já reinava em Hebrom (2Sm.15:10).
“E de Jerusalém foram com Absalão duzentos homens convidados,
porém iam na sua simplicidade, porque nada sabiam daquele negócio” (2Sm.15:11).
Aitofel,
um dos conselheiros de Davi e avô de Bate-Seba (cf.2Sm.11:3; 23:34), desertou
para o lado de Absalão (2Sm.15:12), e muitos do povo se juntaram à conspiração
para usurpar o trono. É possível que Aitofel desejasse se vingar de Davi por
seu pecado com Bate-Seba.
“Também Absalão mandou vir Aitofel, o gilonita, do conselho de
Davi, à sua cidade de Gilo, estando ele sacrificando os seus sacrifícios; e a
conjuração se fortificava, e vinha o povo e se aumentava com Absalão” (2Sm.5:12).
Em
Hebrom, ele preparou os seus seguidores e, ao seu sinal, ao som de trombetas,
deveria ser proclamado a todo o Israel: “Absalão reina em Hebrom!”.
“E enviou Absalão espias por todas as tribos de Israel, dizendo:
Quando ouvirdes o som das trombetas, direis: Absalão reina em Hebrom”.
Absalão
foi a Hebrom porque era a sua cidade natal (2Sm.3:2,3); também, a escolha tinha
um aspecto irônico: em Hebrom Davi foi proclamado rei sobre todo o Israel (cf.
2Sm.5:1-5). Absalão tinha consciência de que havia da parte de Judá um
sentimento muito especial por esse lugar; estrategicamente, buscava apoio
naquela região. Todavia, no caso de Davi, as tribos de Israel foram a Hebrom e
lhe ofereceram o reinado, conforme a promessa do Senhor. De modo contrastante,
Absalão toma a iniciativa da questão com as tribos de Israel e as incentiva a
proclamá-lo rei. Diferente do relato da ascensão de seu pai ao trono, essa
narrativa não traz referência alguma à sua unção (cf. 2Sm.5:3). Sua ascensão ao
reinado, em vez de se basear numa promessa divina, é chamada de conspiração.
4.
Davi foge
Diante
da revolta de Absalão, Davi concluiu que a situação era séria e lhe pareceu
mais prudente deixar Jerusalém (2Sm.15:13-17).
“Então, veio um mensageiro a Davi, dizendo: O coração de cada um
em Israel segue a Absalão. Disse, pois, Davi a todos os seus servos que estavam
com ele em Jerusalém: Levantai-vos, e fujamos, porque não poderíamos escapar
diante de Absalão. Dai-vos pressa a caminhar, para que porventura não se
apresse ele, e nos alcances, e lance sobre nós algum mal, e fira a cidade a fio
de espada” (2Sm.15:13,14).
Se
Davi não tivesse fugido de Jerusalém, provavelmente teria sido morto durante a
luta que se seguiu, assim como inúmeros habitantes inocentes da cidade. Algumas
disputas, que cremos serem necessárias, às vezes são muito custosas e
destrutivas para os que nos rodeiam. Nesses casos, é mais prudente retroceder e
deixar a contenda para outra ocasião, mesmo que isso possa ferir nosso orgulho.
É preciso coragem para ficar e lutar, mas também é necessária coragem para
retroceder em benefícios de outras pessoas.
Por
que Davi de pronto não aniquilou essa rebelião? Havia várias razões que fizeram
com que preferisse fugir: (a) a disputa já se espalhara (2Sm15:10-13) e não
seria facilmente reprimida; (b) ele não queria que a cidade de Jerusalém fosse
destruída; e (c) ainda amava seu filho e não queria feri-lo. Sabemos que Davi
esperava retornar logo a Jerusalém, pois deixara dez de suas concubinas para
cuidar do palácio (2Sm.15:15).
No
contexto da revolta de Absalão, mais uma parte da profecia de Natã se cumpriu.
Aconselhado por Aitofel, Absalão possuiu as concubinas de Davi numa tenda no
terraço perante os olhos de todo o Israel (2Sm.16:22). Esse ato abominável
perante Deus também deixou clara a reivindicação de Absalão pelo trono de
Israel.
5.
A lealdade dos servos de Davi
a)
Lealdade dos de fora
Em
sua fuga, Davi contou com inúmeros soldados fiéis, inclusive muitos deles não
eram israelitas; muitos deles da cidade de Gate, cidade filisteia.
Aparentemente, os geteus, da cidade de Gate, eram os amigos que ele obtivera
enquanto estivera escondido de Saul.
“Tendo, pois, saído o rei com todo o povo a pé, pararam num
lugar distante. E todos os seus servos iam a seu lado, como também todos os
quereteus e todos os peleteus; e todos os geteus, seiscentos homens que vieram
de Gate a pé, caminhavam diante do rei” (2Sm.15:17,18).
Dentre
os filisteus de Gate que o seguiram, um deles era Itai, o geteu
(2Sm.15:19). Davi, quando viu Itai partir com o séquito, ordenou que ele
voltasse, afinal não era judeu, mas um exilado que chegara a Israel havia pouco
tempo. Por que ele acompanharia o rei numa situação, no mínimo, incerta? Itai,
porém, não se permitiu dissuadir. Estava decidido a ir junto com o rei Davi a
qualquer custo.
“Respondeu, porém, Itai ao rei e disse: Vive o SENHOR, e vive o
rei, meu senhor, que no lugar em que estiver o rei, meu senhor, seja para morte
seja para vida, aí certamente estará também o teu servidor” (2Sm.15:21).
Isso
tocou profundamente o coração de Davi, pois tal posicionamento deveria partir
do seu filho rebelde. Davi recompensou a lealdade desse gentio permitindo que
ele e seus seguidores o acompanhassem ao exílio.
“Então, Davi disse a Itai: Vem, pois, e passa adiante. Assim,
passou Itai, o geteu, e todos os seus homens, e todas as crianças que havia com
ele” (2Sm.15:22).
Os
servos de Deus da Nova Aliança devem seguir o Rei dos reis no tempo de sua
rejeição com a mesma devoção que Itai seguiu Davi quando foi rejeitado.
b)
Lealdade dos de dentro
Os
sacerdotes e os levitas também foram leais a Davi (2Sm.15:24,25).
“Eis que também Zadoque ali estava, e com ele todos os levitas
que levavam a arca do concerto de Deus; e puseram ali a arca de Deus; e subiu
Abiatar, até que todo o povo acabou de sair da cidade. Então disse o rei a
Zadoque: Torna a levar a arca de Deus à cidade; se achar eu graça aos olhos do
SENHOR, ele me tornará a trazer para lá e me deixará ver a ela e a sua
habitação”.
O
sacerdote Zadoque e os levitas tentaram levar a Arca da Aliança, mas Davi
ordenou que a Arca fosse levada de volta à cidade. Nesse momento Davi mostrou
grande confiança em Deus - “Torna a levar a arca
de Deus à cidade”.
Davi
se recusa a usar a Arca como se fosse um amuleto mágico ou um paládio por meio
do qual se pode manipular Deus ou compeli-lo (cf. 1Sm.4), ou como um objeto que
visa garantir sua proteção pessoal. A Arca devia ficar no lugar que Davi
designou para sua habitação. Ele não pressupôs que a Arca, por sua simples
presença na cidade, traria benção a Absalão.
Davi
confiou unicamente em Deus – “se achar eu graça aos
olhos do SENHOR, ele me tornará a trazer para lá e me deixará ver a ela e a sua
habitação”. Ele
considerou que se fosse da vontade do Senhor, um dia a benevolência de Deus lhe
permitiria contemplar a Arca em seu devido lugar. Davi percebeu que o seu
destino estava nas mãos do Senhor e se submeteu à vontade divina.
A
atitude de Davi em meio a essa crise mostrou total equilíbrio entre confiança
em Deus e pragmatismo. Por um lado, ele se sujeitou à decisão soberana de Deus
e não procurou manipulá-lo nem o compelir. Em contrapartida, também, orou de
modo específico para que Deus frustrasse seus inimigos, criou uma rede de
espiões em Jerusalém e instruiu o leal Husai a usar de artifícios e neutralizar
os conselheiros de Absalão (2Sm.15:32-37). Sua reação lembra Jacó: quando
confrontado com a perspectiva assustadora de encontrar-se com Esaú, Jacó orou a
Deus com fervor pedindo sua bênção (Gn.32:9-12), e, ao mesmo tempo, tomou
algumas medidas extremamente pragmáticas para proteger a si mesmo e sua família
(Gn.32:3-8,13-23). Confiar em Deus e agir com sabedoria são coisas
complementares, e não antitéticas, uma lição importante a ser lembrada pelo
povo de Deus de todas as eras.
Enquanto
fugia de Absalão, Davi escreveu o Salmo 3, cujo tema é justamente a confiança
em Deus na adversidade.
c)
Lealdade no exílio
Enquanto
Davi estava no exílio, em Maanaim, três homens – Sobi, Maquir e
Barzilai – forneceram provisões não perecíveis para o rei e para o
povo que com ele estava (cf. 2Sm.17:27-29).
“E sucedeu que, chegando Davi a Maanaim, Sobi, filho de Naás, de
Rabá, dos filhos de Amom, e Maquir, filho de Amiel, de Lo-Debar, e Barzilai, o
gileadita, de Rogelim, tomaram camas, e bacias, e vasilhas de barro, e trigo, e
cevada, e farinha, e grão torrado, e favas, e lentilhas, também torradas, e
mel, e manteiga, e ovelhas, e queijos de vacas, e os trouxeram a Davi e ao povo
que com ele estava, para comerem, porque disseram: Este povo no deserto está
faminto, e cansado, e sedento. E Davi contou o povo que tinha consigo e pôs
sobre eles capitães de cem”.
- Sobi era
filho de Naás, o rei falecido do Amonitas. Seu irmão, Hanum, havia rejeitado a
demonstração de boa vontade de Davi e sofrido as consequências (2Sm.10). Sobi, apesar
de estrangeiro, se preocupou mais com o rei de Israel do que muitos dos
israelitas. Semelhantemente, muitos gentios, incluindo nós, acolheram Jesus
Cristo, o Messias prometido, que foi rejeitado pelos “seus”, os judeus (João 1:11).
- Maquir havia
cuidado de Mefibosete por vários anos, até que Davi levou o filho de Jônatas
para Jerusalém (2Sm.9:3-5). Ele ministrou ao príncipe aleijado e ao rei exilado
em seu momento de necessidade. Quem dá dos seus bens à causa de Cristo por meio
da hospitalidade será recompensado com cem vezes mais quando Ele voltar em
glória.
- Barzilai ajudou
a sustentar Davi todo o tempo que o rei permaneceu no exilio, em Maanaim. Ele
era um homem rico, e o sustento que proveu foi extremamente importante para
Davi (2Sm.19:31-39). Em seu leito de morte, Davi instruiu Salomão a usar de
benevolência para com os filhos de Barzilai e colocá-los na corte real
(1Rs.2:7).
“Porém com os filhos de Barzilai, o gileadita, usarás de
beneficência, e estarão entre os que comem à tua mesa, porque assim se chegaram
eles a mim, quando eu fugia por causa de teu irmão Absalão”.
Cristo
não se esquecerá daqueles que ministram a Ele; antes, lhes concederá lugares de
honra em seu reino – “E qualquer que tiver dado só
que seja um copo de água fria a um destes pequenos, em nome de discípulo, em
verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão” (Mt.10:42).
Leia Mateus 25:31-40.
III.
A MORTE DE ABSALÃO
1.
Coração de pai (2Sm.18:1-5)
Davi
dividiu seu exército em três companhias, comandadas por Joabe, Abisai e Itai. O
rei expressou o desejo de participar do combate, mas o povo persuadiu a
permanecer na cidade e mandar socorro, caso fosse necessário. Enquanto os
solados marchavam para fora da cidade, Davi ordenou publicamente aos generais:
“Tratai com brandura o jovem Absalão, por amor de mim” (2Sm.18:5).
“Duas
coisas importantes devem ser entendidas aqui: a primeira é o valor que o povo
via em Davi; sendo ele um grande guerreiro, uma pessoa capaz, ainda que
estivesse pagando um alto preço, as pessoas sabiam do seu valor
(2Sm.18:3;1Sm.18:7; 29:5), e que por causa disso ele era o alvo principal. A
segunda é que o povo queria evitar que o próprio pai tivesse que confrontar o
filho. Todos viam a dor que Davi sentia ao formar aquele exército, para lutar
contra seu filho; por isso, pediu que se tratasse o jovem com brandura” (LBM).
2.
O preço da rebelião de Absalão (2Sm.18:10-18)
A
batalha foi travada no bosque de Efraim (2Sm.18:6-9), a leste do Jordão e perto
de Maanaim. Com o auxílio de Husai, que ficou em Jerusalém a pedido de Davi, e
dos comandantes Joabe, Absai e Itai, o exército de Davi conseguiu derrotar o
exército de Absalão. Cerca de vinte mil homens do exército de Absalão morreram
naquele dia, muitos deles por terem se perdido na floresta densa (2Sm.18:7,8).
Em alguns relatos bíblicos é dito que forças naturais contribuíram para que o
povo do Senhor fosse vitorioso, como lama, insetos, doenças, o que prova que
Deus age como Ele quer.
Vendo
que estava perdendo a batalha, Absalão fugiu sobre um mulo, e quando fugia pelo
bosque, ficou preso pelos cabelos entre os ramos espessos de um grande
carvalho, e o mulo que ele montava foi embora sem ele. Há certa justiça poética
no fato de parte do corpo do qual tanto se orgulhava ter colaborado para sua
destruição.
Joabe
tomou conhecimento da situação de Absalão, irando-se, porque o homem que lhe
trouxe a notícia não o matara. O mensageiro lhe disse que não poderia ter feito
isso, ainda que fosse para ganhar mil moedas de prata, pois tinha ouvido o
pedido do rei. Joabe tomou três dardos e atravessou com eles o coração de
Absalão, deixando que seus escudeiros desse o golpe de misericórdia. O
comandante desobedeceu às ordens do rei, mas fez o que era melhor para o reino.
Em várias ocasiões, Davi havia se recusado a castigar os filhos por crimes que
tinham cometido, de modo que coube a outra pessoa realizar essa tarefa.
Assim
que Absalão morreu, Joabe mandou cessar o combate, pois havia alcançado o
objetivo principal. Jogaram o corpo de Absalão numa grande cova e o cobriram
com um montão de pedras.
“E tomaram Absalão, e o lançaram no bosque, numa grande cova, e
levantaram sobre ele um mui grande montão de pedras; e todo o
Israel fugiu, cada um para a sua tenda” (2Sm.18:17).
-
“...levantaram sobre ele um mui grande montão de pedras”. Aqui, encontramos um eco com dois outros incidentes
registrados em Josué:
-Aconteceu
com ambicioso Acã. Depois
que Acã foi executado, os israelitas “ergueram sobre ele um grande monte de
perdas” (Js.7:26);
-Aconteceu
com o rei de Aí. De
acordo com Josué 8:29, depois que o rei de Aí foi enforcado numa árvore (cf.
2Sm.18:9), os soldados tiraram seu cadáver de lá “...e, ao pôr-do-sol,
ordenou Josué que o seu corpo se tirasse do madeiro; e o lançaram à porta da
cidade e levantaram sobre ele um grande montão de pedras...”.
Estas
são as únicas três passagens no Antigo Testamento que é mencionado um “monte
de pedras”. Essa associação intertextual apresenta Absalão no papel de um
israelita rebelde (Acã), que desonrou a comunidade da Aliança e a colocou em
perigo, e de um inimigo estrangeiro (o rei de Ai), que teve uma morte
humilhante.
Esse
sepultamento indigno de Absalão anulou a tentativa de ele ser glorificado
depois da morte. O comandante do exército, Joabe, considerou essa forma de
sepultamento apropriado, pois Absalão foi um inimigo amaldiçoado (tal qual Acã
e o rei de Ai), cujo local de sepultamento servirá para lembrar o destino de
todos os rebeldes.
Em
meio a essa grande vitória, Davi reconheceu a mão disciplinadora de Deus e
sentiu a dor de perder seu filho (2Sm.18:19-33). Seu corpo estremeceu quando
recebeu a notícia da morte de Absalão, e expressou que ele mesmo gostaria de
ter morrido, em vez do filho (2Sm.18:33). Cinco vezes ele grita o nome de
Absalão e, oito vezes, clama “meu filho” (2Sm.18:33; 19:4). Davi foi perdoado
e, em resposta a sua oração, o Senhor o protegeu, mas ele ainda tinha de
enfrentar as consequências inevitáveis e dolorosas de seus erros passados.
O
fim de Absalão foi trágico, porque ele agira como usurpador, rebelde; pela lei,
deveria morrer (Dt.21:18,21,23; 2Sm.17:2,4). Absalão morreu sem deixar um filho
(2Sm.18:18) para dar continuidade a seu nome, um fim apropriado para um
rebelde. Toda rebeldia tem seu preço; por isso o melhor é sempre evitá-la.
Tomemos
cuidado! Na presença de Deus não há lugar para oposição. Jesus disse: “Quem
comigo não ajunta, espalha”. Se não queremos ser tratados pelo Senhor como
feiticeiros, a melhor coisa é vigiar e não tocar no fruto proibido da
rebelião. Antes de ser rebelde, é bom pensarmos com quem vamos
parecer-nos: com Lúcifer ou com Jesus? Que Deus nos guarde debaixo do sangue de
Cristo contra esse espírito maligno da rebelião. Disse o profeta Samuel a Saul:
“eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar”.
CONCLUSÃO
Com este episódio,
aprendemos que a rebelião aborrece a DEUS. Evitemos, pois, o pecado da
rebeldia; busquemos a sabedoria e a prudência divinas, para que não
experimentemos a ira do DEUS justo e verdadeiro. Sejamos fiéis e santos.
O
HOMEM ABSALÃO era destacado por sua beleza e cabelos (2,3 Kg). Nada de
espiritual se narra a seu respeito. Sua revolta se deu devido à má criação de
seu pai que não corrigiu adequadamente seu irmão Amnom por ter estuprado sua
irmã Tamar e por ter sido deixado 3 anos no exílio e depois mais 2 anos sem
falar com seu pai. Absalão aproveitando a fraqueza do reinado de Davi, age como
político mostrando sua exuberância, bajulação e falsa humildade. Se proclama rei
Davi
foge para não ver Jerusalém destruída e o povo morto. Talvez pensasse ser da
vontade de DEUS Absalão reinar. Davi possuía verdadeiros amigos que não o
desampararam. Com o Coração de pai angustiado pede clemência pelo filho
rebelde. Absalão pagou o preço de sua rebelião, foi morto por Joabe. Davi volta
a reinar.
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