A
ORAÇÃO DE DAVI AO PEDIR PERDÃO
Leitura
Bíblica: Salmo 51.1-17
Davi confessa o seu pecado, suplica o perdão e roga a Deus que
lhe renove um espírito reto - Salmo de Davi
1- Compadece-te de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias.
2- Lava-me completamente da minha iniquidade, e purifica-me do meu pecado.
3- Pois eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim.
4- Contra ti, contra ti somente, pequei, e fiz o que é mau diante dos teus olhos; de sorte que és justificado em falares, e inculpável em julgares.
5- Eis que eu nasci em iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe.
6- Eis que desejas que a verdade esteja no íntimo; faze-me, pois, conhecer a sabedoria no secreto da minha alma.
7- Purifica-me com hissopo, e ficarei limpo; lava-me, e ficarei mais alvo do que a neve.
8- Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que se regozijem os ossos que esmagaste.
9- Esconde o teu rosto dos meus pecados, e apaga todas as minhas iniquidades.
10- Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito estável.
11- Não me lances fora da tua presença, e não retire de mim o teu santo Espírito.
12- Restitui-me a alegria da tua salvação, e sustém-me com um espírito voluntário.
13- Então ensinarei aos transgressores os teus caminhos, e pecadores se converterão a ti.
14- Livra-me dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da minha salvação, e a minha língua cantará alegremente a tua justiça.
15- Abre, Senhor, os meus lábios, e a minha boca proclamará o teu louvor.
16- Pois tu não te comprazes em sacrifícios; se eu te oferecesse holocaustos, tu não te deleitarias.
17- O sacrifício aceitável a Deus é o
espírito quebrantado; ao coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó
Deus.
“Cria
em mim, ó Deus, um coração puro e renova em mim um espírito reto” (Sl 51.10).
INTRODUÇÃO
O Salmo 51 é um dos textos mais conhecidos e impactantes da Bíblia, e serve
como um modelo atemporal de arrependimento e busca por perdão. A passagem é uma
oração sincera do Rei Davi, escrita após ser confrontado pelo profeta Natã por
seus pecados de adultério com Bate-Sebá e de planejar a morte de seu marido,
Urias.
A passagem do
Salmo 51 nos mostra a profunda dor de Davi e seu desejo de ser purificado, indo
muito além de um simples pedido de desculpas. A oração se desdobra em temas
centrais que definem o verdadeiro arrependimento.
A Confissão Completa e Sem Desculpas
Davi começa sua
oração implorando pela misericórdia de Deus, sem justificar suas ações. Ele
reconhece a gravidade de seus atos e assume total responsabilidade.
- "Tem misericórdia
de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões,
segundo a multidão das tuas misericórdias." (v. 1)
- "Pois eu conheço as
minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim." (v. 3)
Ele entende que
seu pecado, embora tenha ferido outras pessoas, foi, acima de tudo, uma ofensa
direta a Deus. A famosa frase "Pequei contra
ti, contra ti somente, e fiz o que é mau perante os teus olhos" (v.
4) mostra essa compreensão.
O Desejo por
Purificação Interior
Davi não pede
apenas para ser perdoado, mas para ser completamente limpo e transformado. Ele
usa imagens poderosas para expressar sua necessidade de renovação:
- Ele pede para ser
"lavado" e "purificado" de sua iniquidade, usando a metáfora de uma roupa suja
que precisa de uma limpeza vigorosa (v. 2).
- Ele se compara a ser
purificado com hissopo,
uma planta usada em rituais de purificação no Antigo Testamento,
simbolizando um rito de limpeza espiritual profunda (v. 7).
- Seu sofrimento é tão
grande que ele diz que seus ossos foram "esmagados" pelo peso da
culpa, e clama para que Deus lhe restitua a alegria e o júbilo (v. 8).
A Oração por um Novo Coração
O ponto central da
oração é o pedido de Davi por uma transformação completa de seu ser. Ele sabe
que não pode se mudar por conta própria.
- "Cria em mim, ó
Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito inabalável." (v. 10)
·
"Não me repulses da tua presença, nem me retires o teu
Santo Espírito." (v. 11)
Davi
entende que a purificação do pecado requer uma intervenção divina, um
"coração puro" que somente Deus pode "criar". Ele também
teme a maior das punições: a perda da presença do Espírito Santo.
O Sacrifício do
Arrependido
Ao final do salmo,
Davi reconhece que Deus não se agrada de sacrifícios de animais, mas sim de uma
atitude interior.
- "Pois não te
comprazes em sacrifícios; do contrário, eu tos daria; e não te agradas de
holocaustos." (v.
16)
- "Os sacrifícios
para Deus são o espírito quebrantado; a um coração compungido e contrito,
não o desprezarás, ó Deus." (v.
17)
Essa passagem
ensina que o sacrifício mais valioso para Deus é um coração que reconhece a sua
falha, se humilha diante d'Ele e se arrepende sinceramente. É por isso que o
Salmo 51 é um dos textos mais poderosos sobre a graça, o perdão e o
arrependimento na tradição cristã e judaica.
I. O PECADO NOS AFASTA DE DEUS
1. O pecado afronta a Deus. Pecado
é a transgressão deliberada e consciente das leis estabelecidas por Deus. Transgressão “é o ato de” transgredir “e” transgredir “, por sua vez, é” passar de
uma parte a outra “,” violar “,” infringir”. “Transgredir” é a
quebra de um dever e de uma ordem (Rm 2:23). Eis o motivo por que a Bíblia diz
que, ao pecar, Eva caiu em transgressão (1Tm 2:14), o mesmo se dando com
relação a Adão (Rm 5:14).
A Bíblia diz que a transgressão receberá de Deus a justa retribuição (Hb 2:2).
Com efeito, sendo a transgressão um afastamento da vontade de Deus, uma quebra
de uma ordem divina, o ser moral que a toma assume a responsabilidade pelos
seus atos e deverá, pois, prestar contas ao Criador e Senhor de todas as coisas
(ler: Hb 4:13; Ap 20:6-15). Quando transgredimos a Deus, estamos condenados à
rejeição por Ele e à morte, como ocorreu com Saul (1Cr 10:13).
A maneira correta de lidarmos com nosso pecado é nos arrependermos dele e, com
toda a sinceridade, buscarmos em Deus o perdão, a graça e a misericórdia (Sl
51; Hb 4:16; 7:25), e nos dispormos a aceitar, sem amargura nem rebelião, o
castigo divino pelo nosso pecado. Davi tanto
reconheceu quanto confessou seus pecados terríveis, voltou-se para Deus, e
aceitou a repreensão de Deus, com humildade (2Sm 12:9-13,20;24:10-25; Sl
51).
2. As consequências do pecado. Qualquer pecado contra a santidade de
Deus é propenso ao perdão, desde que haja deliberação sincera ao arrependimento
por parte do transgressor, como aconteceu com Davi, por exemplo. Porém, as consequências
são inevitáveis e implacáveis.
O relacionamento pecaminoso de Davi com Bate-Sebá
foi rápido, mas as suas consequências foram duradouras. A mão de Deus
pesava sobre ele dia e noite, e o seu vigor se tornou em sequidão de estio.
Depois, Davi perdeu sua reputação. Os ímpios blasfemaram do nome de Deus por
causa de sua loucura. Perdeu o filho do adultério; a criança morreu a despeito
da insistente petição de Davi. Este teve ainda outras perdas: sua filha Tamar
foi desonrada pelo próprio irmão Amnon; Absalão irmão de Tamar, mandou matar
seu próprio irmão Amnon para vingar o que este havia feito com ela. Depois,
Absalão rebelou-se e conspirou contra Davi, seu pai, para tirar-lhe a vida e
tomar-lhe o reino. E nessa empreitada, Absalão é assassinado por Joabe,
comandante do exército de Davi. Tragédias e mais tragédias desabaram sobre a
vida de Davi. Jamais ele podia imaginar que o pecado fosse ter um preço tão
alto. Cuidado com o pecado, pois ele vai lhe custar mais caro do que você quer
pagar.
Muitas pessoas passam a vida inteira chorando por uma decisão errada feita
apenas num instante. Pagam um alto preço por uma desobediência. Choram
amargamente por tomar uma direção errada na vida. Cuidado com o pecado, pois
ele pode levar você mais longe do que você quer ir. Quer viver uma vida de
acordo com a vontade de Deus? Então persevere em oração e no estudo devocional
da Palavra de Deus. A única maneira de o crente manter comunhão com Deus, por
meio do seu Espírito Santo, é andar segundo a sua vontade (Rm 8.1,2,8,9,13,14).
O pecado é uma fraude. Promete prazer e paga com o
desgosto. Levanta a bandeira da vida, mas seu salário é a morte. Tem um
aroma sedutor, mas ao fim cheira a enxofre. Só os loucos zombam do pecado. O
pecado é maligníssimo. Ele é pior do que a pobreza, do que a solidão, do que a
doença. Enfim, o pecado é pior do que a própria morte. Esses males todos não
podem destruir sua alma nem afastar você de Deus, mas o pecado arruína seu
corpo, sua alma e afasta você eternamente de Deus. O rei Davi mais do que
ninguém sentiu na pele e na alma as consequências do pecado.
3. Consciência do pecado. “Purifica-me
com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais alvo do que a neve.
Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que gozem os ossos que tu quebraste.
Esconde a tua face dos meus pecados e apaga todas as minhas iniquidades”
(Sl 51:7-9).
As expressões usadas por Davi nestes trechos demonstram a plena consciência do
pecado praticado contra a santidade de Deus e à sua Lei. Esta percepção leva a
uma oração renovada por purificação. “Hissopo” era o ramo do arbusto do deserto
usado para borrifar o sangue sobre um leproso para sua purificação e cura (Lv
14:4; cf Hb 9:13-14; 1João 1:7). Ao pedir a Deus que o limpasse com “hissopo”
(Sl 51:7), ele revela que se havia contaminado tal qual um leproso ou alguém
que havia tocado em um morto; símbolos de impureza máxima em
sua época (Lv 14; Nm 19: 16-19).
A consciência do pecado era tão profunda, que era semelhante a dor de ossos
quebrados (51:8). Os ossos constituem a força e estrutura do corpo. Por
isso o esmagar dos ossos é uma figura muito forte, que denota uma prostração
completa, tanto mental como corporal. A intervenção e a ação de Deus foram a
única esperança de Davi (51:9).
O pecado destrói a paz com Deus, e a falta dessa
paz, como decorrência do pecado, é como um sinal vermelho, a fim de que o
crente pare imediatamente e volte-se para Deus em oração. É preciso que se
arrependa, confesse o seu pecado e abandone-o, e pela fé em Cristo, e por Ele,
receba o perdão de Deus (leia 1Jo 1.7-9).
II. CONFISSÃO E PERDÃO
1. Reconhecer e confessar o pecado. “Então disse Davi a Natã:
Pequei contra o Senhor. Tornou Natã a Davi: Também o Senhor perdoou o teu
pecado; não morreras” (2Sm 12:13). Depois de cair em si, Davi
reconheceu o seu pecado: “Pequei contra o Senhor”. E imediatamente após a
confissão, foi absolvido da culpa: “O Senhor
perdoou o seu pecado”. Observe que a confissão e o perdão estão no mesmo
versículo (2Sm 12:13). Davi não dividiu a sua culpa com ninguém. A sua
confissão é limpa, tal qual a do publicano: “Deus, tem misericórdia de mim, que
sou pecador” (Lc 18:13). Ele não disse que pecou porque suas mulheres e
concubinas não o satisfaziam sexualmente. Não pôs culpa no pecado original
herdado de Adão (Sl 51:5). Em nenhum momento responsabilizou Bate-Sebá pela sua
lascívia. Ele colocou o verbo pecar na primeira pessoa do singular, tanto no
caso do adultério (2Sm 12:13; Sl 51:4) como no caso do recenseamento (1Cr 21:8,
17).
Qual é a garantia de que a confissão é importante para Deus? A
própria Palavra de Deus. Ela garante que a confissão é premiada com a
misericórdia. “O que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas o que
as confessa e deixa alcançará misericórdia” (Pv 28:13). Deus sabe que estamos
sujeitos às leis deste mundo, mas exige que pautemos uma vida dentro dos
padrões estabelecidos por Ele. E quando nos afastamos desse padrão, Ele espera
que reconheçamos nossa falha e retornemos para Ele por meio da confissão. Todos
nós conhecemos o texto áureo da confissão: ‘Se confessarmos os nossos pecados,
Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda
injustiça’ (1João 1:9).
Portanto, reconhecer e confessar o pecado, com um coração sincero e
arrependido, sempre trará o perdão gracioso da parte de Deus, a remoção da
culpa e a dádiva da sua presença constante. Disse Davi: “Confessei-te o meu pecado e a minha maldade não encobri;
dizia eu: Confessarei ao SENHOR as minhas transgressões; e tu perdoaste a
maldade do meu pecado” (Sl 32:5).
2. Conhecendo o caráter de Deus (Sl 51:6,16). Davi sabia o
que era ter intimidade, comunhão com o Senhor. Ainda jovem nos campos era
pastor de ovelhas, e o seu tempo era dividido em contemplar as belezas de Deus
e o seu trabalho de pastoreio. Desde cedo Davi aprendera a confiar no Senhor.
Durante toda a sua vida quando se via em meio às dificuldades, adversidades e
desafios lá estava ele buscando refúgio com a pessoa certa e fazendo
declarações como vemos neste Salmo: “A ti
Senhor, elevo a minha alma. Deus meu, em ti confio. Tu és a minha salvação e
por ti espero o dia todo. Os meus olhos estão postos continuamente no Senhor,
pois Ele tirará os meus pés da rede” (25:2,5,15). Com certeza estas
declarações faziam derreter o coração de Deus. Davi conhecia de perto o caráter
de seu Deus e mesmo em meio às lutas, sofrimentos, decepções, depressões, nada
absolutamente nada, o fazia desistir de confiar no Senhor. Havia temor no seu
coração, por isso ele diz o seguinte: “Qual é o
homem que teme ao Senhor? Este lhe ensinará o caminho que deve escolher. A sua
alma repousará na prosperidade e a sua descendência herdará a terra. O segredo
do Senhor é para os que o temem. Ele fará saber a sua aliança” (Sl
25:12-14).
Por conhecer o caráter de Deus, Davi sabia que Sua Santidade não admite que os
seus servos tenham uma vida desregrada diante dele. Ele sabia que somente
homens limpos de mãos e puros de coração entram no santuário (Sl 24:3,4).
Hoje, pode ser que você não entenda o porquê de algumas regras que
Deus nos deu. Faz mal satisfazer algum determinado desejo da carne? Tem
problema em tomar uma cervejinha de vez em quando? Prejudica alguém assistir
filmes com cenas de sexo? Faz mal alugar fitas pornográficas ou comprar
revistas pornográficas? Por que não furtar um pouquinho de dinheiro quando
ninguém sentirá falta? Uma mentirinha de vez em quando vai causar problemas?
Tais coisas, embora sejam frívolas aos olhos dos seres humanos, vão, porém, de
encontro ao caráter de Deus. Logo, devemos respeitar as suas regras (ler 1João
3:3-10).
3. O afastamento de Deus. Está escrito: “Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós
e o vosso Deus; e os vossos
pecados encobre o seu rosto de vós, para que não vos ouça” (Is 59:1,2). Numa sociedade em que a
maldade é explicada e justificada de diversas maneiras sociológicas e
psicológicas, é fácil esquecer que o pecado é a transgressão da vontade de Deus
(1João 3:4) que cria uma barreira entre Deus e os pecadores. A pessoa que quer
voltar para Deus precisa identificar o problema de pecado na sua vida. Davi
disse: “Pois eu conheço as minhas transgressões, e
o meu pecado está sempre diante de mim” (Sl 51:3).
Não é suficiente reconhecer que o pecado nos afasta de Deus. É
necessário assumir responsabilidade pessoal pelos pecados que temos cometido.
Diferente de crianças que apontam os dedos para jogar a culpa nos outros,
precisamos agir como adultos e assumir a responsabilidade pelas nossas próprias
transgressões. Embora o pecado de Davi tenha
atingido várias outras pessoas (Bate-Sebá, Urias, Joabe, a família dele etc.), Davi
entendeu que o principal problema foi a ofensa contra Deus: “Pequei contra ti, contra ti somente, e fiz o que é mal
perante os teus olhos, de maneira que serás tido por justo no teu falar e puro
no teu julgar” (Sl 51:4). O meu pecado não é culpa da família, da
igreja, da sociedade etc. É culpa minha!
O nosso coração pode cair
em incredulidade, provocando afastamento de Deus. Ninguém deixa a igreja de uma
hora para a outra, o que ocorre é um distanciamento gradativo, e quando a
pessoa percebe já está longe de Deus. É por isso mesmo que cada crente deve
procurar incentivar os outros na fé, pois os cuidados e caprichos deste mundo
são coisas que querem a todo custo nos afastar dos valores celestiais.
III. A RESTAURAÇÃO DO PECADOR
A restauração, sob o ponto
de vista humano, é a maneira de se colocar contritamente nas mãos do divino “Oleiro” para
que ele refaça o “vaso quebrado” e lhe dê
novamente a forma e a beleza anteriores, depois de qualquer escorregão e queda
ou de qualquer escândalo e desastre de natureza moral e religiosa.
Depois de qualquer período de frieza espiritual e crise existencial, depois de
qualquer escândalo e desastre de natureza espiritual, depois de qualquer
ressentimento ou revolta contra Deus, é necessário que haja restauração para
que se retorne ao estado original.
Davi, autor de 73 dos 150 salmos, e que possuía certos traços de caráter muito
especiais (1Sm 24:6; 26:8-11; 2 Sm 23:13-17; 1Cr 21:18-27), teve o seu padrão
espiritual e moral - tão elogiado por Deus(At 13:22) e pelos de fora(1Sm 16:18)
- quebrado, destruído, porque desprezou a Palavra do Senhor(2Sm 12:9). Se
quisesse voltar o que era antes (“o homem
segundo o coração de Deus”), era necessária uma cabal restauração em
sua estrutura espiritual; uma restauração sincera.
A ordem do processo de restauração é sempre essa: arrependimento,
conscientização, confissão e abandono da prática pecaminosa. Mesmo tendo pecado
e tentado ocultar o que fizera, Davi tinha um coração bom e voltado para Deus,
pois era uma pessoa quebrantada. Ele podia, como rei, punir Natã, ou mesmo se
escusar daquela acusação, mas se quebrantou diante do profeta e reconheceu seu
pecado. Era isto que Deus esperava dele, e assim começou a recuperação de Davi.
Na cruz, Jesus morreu pelos nossos pecados. Quando nós voltamos
para a cruz, encontramos perdão, cura, restauração completa. “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo
para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça” (1João
1:9).
Os versículos 1 e 2 do salmo 51 mostram o pavor de Davi pelo pecado cometido
contra a Santidade de Deus, e clama com todo ímpeto de sua alma pela Sua
misericórdia: “Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade;
apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias.
Lava-me completamente da minha iniquidade e purifica-me do meu pecado”. Esse
clamor mostra o desespero de Davi por perda de algo muito importante, e foi
importante mesmo, vejamos então: a perda da comunhão de Deus; a perda da sua
proteção; a perda do título do homem segundo o coração de Deus; a perda da
tranquilidade diante dos inimigos; e consequências nefastas na área política,
espiritual, familiar etc. Para restaurar a sua posição original ele necessitava
do favor e da compaixão do Senhor. Mas, para encontrar o caminho da
restauração, Davi precisava:
a)
Admitir
o seu pecado (Sl 51:3) –
“...eu conheço as minhas transgressões...”. Davi
por um tempo escondeu o seu pecado, mas isso estava arruinando a sua vida (a
alegria foi embora, a mão de Deus pesava sobre ele etc.). Até que ele viu
seriamente sua situação e teve convicção do pecado. Não há esperança de perdão
e restauração enquanto você não admitir o seu pecado. Não olhe para os outros.
Não julgue e nem culpe os outros. Pare de se justificar. Diga como Davi:” Eu reconheço as minhas transgressões”; “Pequei contra o
Senhor”. Ou como o filho pródigo: “Pai, eu
pequei contra os céus e diante de ti”. Davi reconheceu que o problema
não estava fora dele (beleza de Bate-Sebá), mas no seu coração sujo. O caminho
da restauração passa pelo arrependimento e confissão do erro cometido e
abandono da prática do pecado. O arrependimento é o reconhecimento de que você
não merece nada a não ser o juízo.
Você sabe qual a diferença entre Saul e Davi em relação ao pecado? Ao pecar,
Saul tentou justificar-se transferindo a responsabilidade para o povo (1Sm
13.13,14; 15.1-3,9, 15-31); ao passo que Davi admitiu o seu pecado, e
arrependeu-se profundamente (2Sm 12.13a; Sl 51.4). Se o crente não admitir os
seus erros e rejeitar a disciplina do Senhor, poderá ter o mesmo destino de
Saul.
b) Confessar o seu pecado (2Sm 12:13) – “Então, disse Davi a Natã: Pequei contra o Senhor”. Quando confessamos nossas faltas ao Senhor, damos o primeiro passo em direção à recuperação da comunhão com Ele - "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça"(1João 1.9). O crente não pode se limitar apenas ao quebrantamento. É preciso confessar e deixar o pecado. Dizer a Deus o que fizemos não é confissão. A ideia de confissão exige da pessoa o desejo de abandonar o erro. Deus não quer que leiamos para ele a lista de nossos erros, e sim que os confessemos, admitindo nossas falhas e dependendo dele para nossa restauração - “O que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia” (Pv 28:13).
c) Buscar o perdão de Deus (Sl 51:1) - “Tem misericórdia de mim, ó Deus”. Davi reconheceu sua culpa, mas foi além. Somente sentir o peso do pecado pode levar ao remorso e autodestruição (por exemplo: Judas). Davi não se suicidou, não fugiu de Deus, mas correu para ele. Precisava ser perdoado e purificado. “A confissão busca o perdão de Deus, não a anistia. Perdão presume culpa; anistia, derivada da mesma palavra grega para amnésia, 'esquece' a suposta ofensa sem imputar culpa" (LUCADO, Max. Nas Garras da Graça, RJ: CPAD, 1999, p.120).
Davi pecou contra Deus, mas o que ele mais desejava era ter Deus de volta. Muitos
que pecam, abandonam a sua fé em Deus, abandonam a comunhão com os irmãos da
Igreja, a Bíblia, a oração. Fogem de Deus, que é o caminho oposto ao
arrependimento. Mas Davi sabia que só Deus podia restaurá-lo, e que Deus não
rejeita um coração quebrantado.
Na cruz, Jesus morreu pelos nossos pecados. Quando nós voltamos para a cruz,
encontramos perdão, cura, restauração completa. “Se
confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos
pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 João 1:9). O perdão e a
restauração da comunhão que se fizeram necessários são efetuados mediante a
confissão dos pecados (1João 1: 9) e o arrependimento (Lc 17: 3,4; 24: 47).
d) Mudar de atitude. O arrependimento é uma tristeza que
opera uma mudança de atitude para com Deus, ou seja, só há arrependimento
quando a pessoa muda a sua maneira de viver, ou seja, deixa de proceder em
desobediência a Deus para passar a obedecer-Lhe. O arrependimento, portanto, é
o atendimento ao chamado divino para a salvação, como deixou claro o apóstolo
Pedro no seu sermão no dia de Pentecostes.
Quando o pecador se arrepende, deixa a sua vida de pecados e, por isso, muda de
direção na sua vida, atitude que os estudiosos da Bíblia denominam de
“conversão” e que implica no início da jornada no “caminho
apertado que conduz à vida”, como o apóstolo Paulo deixa claro em 1Ts
1:9. Não há salvação sem que a pessoa mude de orientação na sua vida, passe a
ter atitudes diferentes, modifique a sua anterior vã maneira de viver (1Pedro
1:18). A conversão, pois, é a concretização, a realização do arrependimento,
quase que como seu complemento, que faz com que o homem arrependido passe a
andar no caminho certo (João 14:6).
As pessoas precisam rever suas atitudes quando o coração fala mais alto que a
razão. Quando nossos sentimentos nos fazem fracassar precisamos mudar e gerar
novas atitudes. Vejamos quais as atitudes Davi diante do seu pecado:
Acatou a palavra do Senhor (2Sm 12:1a). "O
Senhor enviou Natã a Davi....". Natã confrontou o pecado
de Davi com a palavra do Senhor. Davi aceitou as palavras do profeta e não
resistiu a elas.
Reconheceu os erros cometidos (2Sm 12:13). Davi disse: "...Pequei
contra o Senhor".
O reconhecimento de Davi foi o princípio de sua restauração espiritual.
Confessou o seu pecado e decidiu não pecar mais (Salmo 51:1,13,17).
A Escritura comprova que Davi foi totalmente restaurado diante de Deus, e suas
poesias expostas nos Salmos confirmam essa restauração.
CONCLUSÃO
Devemos reconhecer os nossos pecados e buscar em Deus o perdão e a
purificação deles. Quando acontece isso os resultados são: o perdão divino e a
reconciliação com Deus; a purificação (isto é, remoção) da culpa e a
destruição do poder do pecado, a fim de vivermos uma vida de santidade (Sl
32:1-5; Pv 28:13; Jr 31:34; Lc 15:18; Rm 6:2-14).
Devemos nos conscientizar de que a carne, ou a natureza humana pecaminosa é uma
ameaça constante na nossa vida, e que devemos sempre estar mortificando as
nossas más obras por meio do Espírito Santo que em nós habita (Rm 8:13; Gl
5:16-25).
Mais que condenar Davi, precisamos estar atentos ao fato de que, em maior ou
menor escala, somos parecidos com ele e estamos sujeitos a fazer coisas tão
graves quanto as que ele fez. Não estamos imunes ao pecado em um mundo decaído.
Não podemos dizer que jamais pecaremos, mas podemos ter certeza de que Deus, em
sua grande misericórdia, aceitará o pecador arrependido e o restaurará à comunhão
perdida. Glórias a Deus!
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