PERDOAR
Perdoar
setenta vezes sete
Mateus
18:21-22 Então Pedro, aproximando-se dele, Lhe
perguntou: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu hei de
perdoar? Até sete? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete; mas até
setenta vezes sete.
O
amor do Senhor
Mateus
22:37-39 Respondeu-lhe
Jesus: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu
coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. Este é o grande e
primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás ao teu próximo
como a ti mesmo.
Dessas
duas passagens, uma fala de perdão e a outra fala de amor. Esses dois tópicos
realmente destacam a obra que o Senhor Jesus quis realizar na Era da Graça.
Quando
Deus tornou-Se carne, Ele trouxe junto com isso um estágio de Sua obra — Ele
trouxe a obra específica e o caráter específico que Ele queria expressar nessa
era. Naquele período, tudo o que o Filho do homem fez girava em torno da obra
que Deus queria realizar nessa era. Ele não aceitaria fazer mais nem menos.
Cada coisa que Ele disse e cada tipo de obra que Ele realizou estava
relacionado com essa era. Independentemente de ter expressado isso ou não de
uma maneira humana, com linguagem humana, ou através da linguagem divina — não
importa de que maneira, ou de qual perspectiva — o Seu objetivo era ajudar as
pessoas a entenderem o que Ele queria fazer, qual era a Sua vontade e quais
eram as Suas exigências em relação às pessoas. Ele podia usar vários meios, de
diversas perspectivas, para ajudar as pessoas a compreenderem e conhecer a Sua
vontade, compreender a Sua obra de salvar a humanidade.
Assim,
na Era da Graça, vemos o Senhor Jesus usando com frequência a linguagem humana
para expressar o que Ele queria comunicar à humanidade. Ainda mais, nós O vemos
da perspectiva de um guia comum conversando com as pessoas, suprindo suas
necessidades, ajudando-as com aquilo que elas pediam. Esse modo de operar não
era visto na Era da Lei, que antecedeu a Era da Graça. Ele se tornou mais
íntimo e mais compassivo com a humanidade, bem como mais capaz de alcançar
resultados práticos, tanto na forma como na maneira. A expressão “perdoar
setenta vezes sete” realmente esclarece esse ponto. O objetivo alcançado
pelo número nessa expressão é permitir que as pessoas compreendessem a intenção
do Senhor Jesus quando Ele disse isso. Sua intenção era que as pessoas
perdoassem os outros — não uma ou duas vezes, nem sete vezes, mas setenta vezes
sete. Que tipo de ideia é esse “setenta vezes
sete”? É fazer com que as pessoas façam do perdão sua própria
responsabilidade, algo que elas precisam aprender e um caminho que elas
precisam conservar. Embora isso fosse apenas uma expressão, serviu como um
ponto crucial. Ajudou as pessoas a apreciarem profundamente o que Ele quis
dizer e a encontrar os caminhos adequados da prática, e os princípios e normas
na prática. Essa expressão ajudou as pessoas a entenderem claramente e lhes deu
um conceito preciso de que deveriam aprender o perdão — perdoar sem condições e
sem limitações, mas com uma atitude de tolerância e compreensão para os outros.
Quando o Senhor Jesus disse isso, o que estava em Seu coração? Estaria Ele
realmente pensando em setenta vezes sete? Não estava. Existirá um número de
vezes que Deus perdoará o homem? Há muitas pessoas muito interessadas no “número de vezes” mencionado, que realmente querem
entender a origem e o significado desse número. Querem entender por que esse
número saiu da boca do Senhor Jesus; acreditam que há uma implicação mais
profunda nesse número. Na verdade, essa foi apenas a expressão de Deus em meio
à humanidade. Qualquer implicação ou significado deve ser tomado juntamente com
as exigências do Senhor Jesus para com a humanidade. Quando Deus ainda não
havia Se tornado carne, as pessoas não compreendiam boa parte do que Ele dizia,
porque provinha da divindade completa. A perspectiva e o contexto do que Ele
dizia era invisível e inatingível para a humanidade; era expresso a partir de
um reino espiritual que as pessoas não podiam ver. Para as pessoas que viviam
na carne, elas não podiam passar através do reino espiritual. Mas depois que
Deus tornou-Se carne, Ele falou à humanidade da perspectiva da humanidade; Ele
saiu e ultrapassou o escopo do reino espiritual. Ele podia expressar o Seu
caráter divino, Sua vontade e Sua atitude, por meio de coisas que os humanos
eram capazes de imaginar e coisas que eles viam e encontravam em sua vida,
usando métodos que os humanos podiam aceitar, numa linguagem que eles
conseguiam entender e um conhecimento que elas eram capazes de captar, para
permitir à humanidade compreender e conhecer a Deus, compreender a Sua intenção
e as normas que Ele exige, dentro do âmbito da capacidade delas, na medida em
que elas eram capazes. Esse foi o método e o princípio da obra de Deus em meio
à humanidade. Embora os caminhos de Deus e Seus princípios de operar na carne
tenham sido alcançados sobretudo pela humanidade, ou através da humanidade,
realmente alcançaram resultados que não poderiam ser alcançados operando
diretamente na divindade. A obra de Deus na humanidade foi mais concreta,
autêntica e direcionada, os métodos eram muito mais flexíveis e, na forma,
superavam a Era da Lei.
Adiante,
vamos falar sobre amar o Senhor e amar o próximo como a si mesmo. Isso é algo
expresso diretamente na divindade? É bem claro que não! Tudo isso foram coisas
que o Filho do homem disse em Sua humanidade; só gente diria algo como “Ame seu próximo como a si mesmo. Amar os outros é o mesmo
que prezar sua própria vida” e só gente falaria dessa maneira. Deus
nunca falou dessa maneira. No mínimo, Deus não tem esse tipo de linguagem na
Sua divindade porque Ele não precisa desse tipo de preceito: “ame seu próximo
como a si mesmo”, para reger o Seu amor pela humanidade, pois o amor de Deus
pela humanidade é uma revelação natural daquilo que Ele tem e é. Quando vocês
já ouviram falar que Deus disse algo como “Eu amo a
humanidade como amo a Mim mesmo”? Porque o amor está na essência de Deus
e no que Ele tem e é. O amor de Deus pela humanidade e o modo como Ele trata as
pessoas e a Sua atitude são uma expressão natural e reveladora de Seu caráter.
Ele não precisa fazer isso deliberadamente de uma certa maneira, ou seguir
deliberadamente um certo método ou um código moral para conseguir amar o
próximo como a Si Mesmo — Ele já possui esse tipo de essência. O que você vê nisto? Quando Deus operou em humanidade,
muitos dos Seus métodos, palavras e verdades foram expressos de maneira humana.
Mas, ao mesmo tempo, o caráter de Deus, o que Ele tem e é, e a Sua vontade
foram expressos para que as pessoas os conhecessem e os compreendessem. O que
eles conheciam e compreendiam era, exatamente, a Sua essência e o que Ele tem e
é, o que representa a identidade inerente e o status do Próprio Deus. Ou seja,
o Filho do homem na carne expressou o caráter inerente e a essência do Próprio
Deus até o máximo grau possível e com a maior precisão possível. Não só
a humanidade do Filho do homem não era um obstáculo nem uma barreira para a
comunicação e a interação do homem com Deus no céu, mas era, na verdade, o
único canal e a única ponte para a humanidade se conectar ao Senhor da criação.
Nesse ponto, vocês não acham que há muitas semelhanças entre a natureza e os
métodos da obra realizada pelo Senhor Jesus na Era da Graça e o atual estágio
da obra? O estágio atual da obra também usa muita linguagem humana para
expressar o caráter de Deus e usa muita linguagem e muitos métodos da vida
cotidiana da humanidade e do conhecimento humano para expressar a própria
vontade de Deus. Uma vez que Deus Se torna carne, não importa se Ele está
falando de uma perspectiva humana ou de uma perspectiva divina, grande parte da
Sua linguagem e dos Seus métodos de expressão são comunicados por meio da
linguagem humana e dos métodos humanos. Isto é, quando Deus Se torna carne, é a
melhor oportunidade para vocês verem a onipotência de Deus e a Sua sabedoria, e
conhecer cada aspecto real de Deus. Quando Deus tornou-Se carne, na Sua fase de
crescimento, Ele veio a compreender, aprender e captar parte dos conhecimentos
da humanidade, do bom senso, da linguagem e dos métodos de expressão da
humanidade. O Deus encarnado possuía essas coisas que vinham dos humanos que
Ele havia criado. Elas se tornaram ferramentas do Deus feito carne para
expressar o Seu caráter e a Sua divindade e permitiram que Ele tornasse Sua
obra mais pertinente, mais autêntica e mais precisa quando Ele operava em meio
à humanidade, de uma perspectiva humana e usando a linguagem humana. Isso a
tornou mais acessível e mais facilmente compreendida pelas pessoas, alcançando
assim os resultados que Deus desejava. Não é mais
prático para Deus operar na carne desta maneira? Não é isso a sabedoria de
Deus? Quando Deus tornou-Se carne, quando a carne de Deus foi capaz de
assumir a obra que Ele queria realizar, foi quando Ele expressou na prática o
Seu caráter e a Sua obra, e também foi a época em que Ele pôde iniciar
oficialmente o Seu ministério como Filho do homem. Isso significava que não
havia mais um abismo entre Deus e o homem, que Deus cessaria logo Sua obra de
comunicar-Se por meio de mensageiros, e que o Próprio Deus podia expressar
pessoalmente todas as palavras e operar na carne tal como queria. Isso também
significava que as pessoas que Deus salvou estavam mais próximas Dele e que a
Sua obra de gerenciamento havia entrado em um novo território, e que toda a
humanidade estava prestes a se ver diante de uma nova era.
PERDOAMOS PORQUE FOMOS PERDOADOS
texto
bíblico: Mateus 18:21-35
"assim vos fará também meu pai celestial, se do coração não
perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas" (mt.18:35).
INTRODUÇÃO
dando
continuidade ao estudo das parábolas de jesus, estudaremos nesta aula a
respeito da parábola do credor incompassivo, ou seja, o credor que não tem
compaixão, o credor que não tem misericórdia.
ela
é uma ilustração que jesus faz a respeito do perdão
ilimitado como uma nota do caráter que deve ter o
filho de deus (mt.5:45).
se Deus nos perdoa por intermédio de sua infinita graça, por outro lado, temos a
responsabilidade de perdoar aqueles que nos ofendem.
quem
não tem condição de perdoar, mostra, com este gesto, que não nasceu de novo e
que não pertence, pois, ao reino de deus.
I.
interpretando a parábola do credor incompassivo
vejamos
os elementos destacados na parábola.
1.
o rei.
embora o
credor incompassivo seja a personagem principal da
parábola, não é o primeiro elemento que surge.
o
primeiro elemento da parábola é o rei. ele é o símbolo de Deus.
disto temos
absoluta convicção, porque jesus, ao término da parábola, faz a
aplicação, ao dizer que, assim como o rei tratou o servo incompassivo,
assim seu pai haveria de tratar aquele que não perdoasse os seus
irmãos, indicando, deste modo, que o rei não é outro senão o pai celestial
(mt.18:35).
2.
o credor incompassivo.
é
o personagem de destaque na
parábola.
as
circunstâncias da parábola permitem-nos afirmar que esse servo se
tratava de uma alta autoridade do reino, de um participante da corte real.
é, portanto, alguém que está junto ao reinado do rei, de um
assessor importante do rei.
esta
é a condição dos integrantes da igreja,
a agência do reino de Deus aqui na terra.
os
salvos são servos de Deus, estão
a seu serviço, mas gozam de um relacionamento íntimo com o senhor,
têm livre acesso ao trono e desfrutam da confiança de Deus.
não
é à toa que, no reino milenial de cristo, teremos participação ativa no
governo pessoal de jesus na terra.
contudo,
esse servo tem também o seu simbolismo explicitamente mencionado por jesus na conclusão da
parábola: é o discípulo de jesus que não
sabe perdoar de coração as ofensas de seus “irmãos” (mt.18:35).
agir
dessa maneira corre o risco tremendo de ficar fora do reino (mt.18:34).
3.
uma dívida impagável.
o
credor incompassivo (o servo) possuía
uma dívida muito alta, quiçá a maior de todos os devedores, daí porque ter sido
chamado logo no início da prestação de contas.
a
dívida desse servo era de 10(dez) mil talentos. um valor humanamente
impagável.
na
verdade, jesus não contou apenas uma parábola, ele contou uma hipérbole,
porque nenhum judeu podia dever 10 mil talentos no primeiro século da
era cristã.
o
que são 10 (dez) mil talentos?
1(um)
talento são 35 quilos de ouro
ou prata. 10 (dez) mil talentos são 350 mil quilos de ouro ou
prata.
para
você ter uma ideia, à época de jesus, todos os impostos da galiléia, Judéia,
peréia e Samaria, durante um ano, eram 800 talentos. portanto, 10 mil
talentos eram os impostos de toda a região durante treze
anos.
naquela
época o salário diário de um trabalhador era 1(um) denário.
para
um homem ajuntar 10 mil talentos ganhando
1(um) denário por dia ele teria que trabalhar, ininterruptamente,
durante 150 mil anos.
portanto,
quando aquele homem promete pagar a sua dívida ele estava fazendo uma
promessa que não podia cumprir.
jesus
quer nos informar que esta é o tamanho da dívida que Deus perdoou a você e a
mim, uma dívida
impagável.
nós jamais podíamos pagar essa dívida com Deus, mas jesus
cristo, seu amado filho, pagou toda essa dívida (cl.2:14).
“havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas
ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de
nós, cravando-a na cruz”.
nesta
parábola, jesus não indica como se realizou o pagamento da dívida, pois não era
este o seu objetivo.
o
propósito da parábola é mostrar o valor e o significado do perdão na igreja, para o salvo. daí porque não ter
adentrado nesta questão.
mas
é importante sabermos que o perdão realizado por Deus não se deu
gratuitamente.
para
nós, foi de graça, nada custou, mas, para a satisfação da justiça divina, representou
o preço do sangue de cristo (1pd.1:18,19).
4.
a recusa em perdoar.
o
servo saiu da presença do rei,
estava livre e deveria esperar tão somente a formalização
do perdão, mediante a quitação da dívida, o que ocorreria,
certamente, ao término da sessão real de prestação de contas.
eis
que o servo encontrou com um conservo seu,
ou seja, com alguém que também estava sob o governo do rei, com alguém que
pertencia ao mesmo grupo que participava da corte real.
o
conservo devia ao servo uma quantia irrisória.
a
dívida era de cem denários, quantia correspondente
a cem dias de trabalho de um assalariado, ou seja, três meses
e um terço dias de serviço, valor perfeitamente passível de pagamento.
a
quantia era, realmente, insignificante em si mesma. alguns intérpretes entendem
que a quantia representava menos de 30g de ouro.
ao
encontrar o conservo, o servo não se conteve e logo lhe foi
cobrar a dívida.
o
conservo usou das mesmas palavras que o servo havia usado perante o rei:
“sê generoso para comigo e tudo te pagarei” (mt.18:29).
ele não
discute a dívida, pede apenas um prazo para pagar.
entretanto, o
servo, sem usar de misericórdia, lançou mão do seu colega e executou
a dívida, sufocando-o e exigindo o pagamento (mt.18:28).
o
gesto de sufocar significa,
provavelmente, que o servo fazia questão de maltratar o seu devedor,
provavelmente torcendo o seu pescoço, que era um costume, inclusive
entre os judeus, de levar o devedor ao tribunal com o pescoço torcido.
o
servo, assim, demonstrou que usava dos seus direitos nos mínimos
detalhes, não deixava passar uma só vírgula daquilo que lhe era
permitido por lei.
o
servo mostrou, assim, que, apesar de ter sido alvo da benevolência, do favor do
rei, preferiu seguir o caminho da lei. lei, aliás, que nunca lhe
favoreceria enquanto devedor.
o
servo poderia ter atendido o clamor do conservo devedor, mas o texto sagrado diz que
ele não quis (mt.18:30).
o
servo não quis fazer o bem ao
seu semelhante, não quis usar de misericórdia.
ele
que foi perdoado de uma dívida de 150 mil anos, mas não se
dispôs a perdoar uma dívida de três meses e 10 dias, facilmente
pagável.
Deus
quer a nossa misericórdia,
deus quer que nos guiemos pelo amor que ele
derramou nos nossos corações.
Deus
exige de seus servos perdoados o
mesmo critério de graça, o mesmo critério de misericórdia.
a
lei vigente na igreja é a misericórdia, é a compaixão. misericórdia é colocar o coração na
miséria do outro.
o
servo, por causa do
perdão recebido, estava obrigado a dar a moratória pedida
pelo conservo. não apenas isso, mas estava obrigado a
perdoar a dívida, assim como havia sido perdoado.
o
perdão das ofensas cometidas contra nós não é, no reino de Deus, uma faculdade, uma permissão dada
ao ofendido, como é na lei civil, como é na lei dos homens, mas um
dever do filho do reino.
o
perdão é a nota distintiva da ética do reino de Deus e não se pode, portanto, querer pertencer a
ele sem que se tenha esta qualidade de perdoar.
sem
o perdão, não
agiremos como filhos do reino.
sem
o perdão, não seremos
igreja.
sem
o perdão, não teremos como
dizer que temos parte com Deus.
sem
perdão, não poderemos ser
chamados de cristãos.
o
rei, ao verificar a falta de perdão por
parte do servo, viu nele a ausência da natureza divina, viu
nele a falta de comunhão com o rei.
o
perdão já não mais lhe servia,
pois havia cometido nova iniquidade.
antes
de receber a quitação, demonstrara maldade. por isso, o rei não formalizou o perdão,
que revogou.
o
servo incompassivo perdeu a salvação e
não teve mais chance de arrependimento, não porque Deus seja mau, não
porque deus seja contraditório, mas simplesmente
porque o servo não quis ser salvo, não quis obedecer à lei do amor.
para
alcançarmos a salvação, precisamos perseverar até o fim (m.24:13), ou seja, precisamos querer ser
salvos desde o momento do perdão dos nossos pecados até
o instante de sua passagem para a eternidade, seja pela morte física,
seja pelo arrebatamento da igreja. você quer ser salvo?
querer
não é uma questão de falar,
mas uma questão de agir.
5.
o perdão é ilimitado.
qual
o limite do perdão?
Pedro
um dia perguntou, talvez
num momento imediatamente anterior àquele em que o senhor jesus proferiu esta
parábola:
“…senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu
lhe perdoarei? até sete?
(mt.18:21,22).
tendo
por base algumas passagens do livro de Amós (am.1:11,13;
2:1,6), onde se anunciava a expressão divina: “por
três transgressões ou por quatro, não retirarei o castigo”, entendia-se que uma pessoa
poderia ser perdoada três ou quatro vezes por alguém, que seria este o
limite do perdão a alguém.
alguns,
mais “liberais”, chegaram
mesmo a afirmar que o limite do perdão seria de sete vezes, baseando-se
em pv.24:16, tendo sido, talvez, está a discussão que levou Pedro a indagar
a jesus qual o limite do perdão que se deveria dar, adotando, inclusive, a
corrente mais favorável existente.
para
sua surpresa, porém, jesus
mostra-lhe que a dimensão do reino de deus está bem acima do mais
liberal intérprete da lei.
simplesmente,
não haveria limite para o perdão.
não
se teria sete perdões,
mas, muito mais do que isto, setenta vezes sete, expressão
que não significa, literalmente, quatrocentas e noventa
vezes, mas que tem como sentido “sempre”, ou seja, não
há limite para o perdão entre os filhos do reino.
portanto, para
ilustrar este ensino, jesus proferiu a parábola do credor
incompassivo, retratando a grande disposição de deus em
perdoar e a sua exigência de que o homem perdoado tenha
a capacidade de liberar o perdão aos seus devedores, também de forma
ilimitada.
jesus
quer nos ensinar que nunca poderemos dizer: não perdoo
fulano, não perdoo sicrano, porque fui muito humilhado, muito machucado,
muito ferido.
a
bíblia diz que devemos perdoar assim como Deus em cristo nos perdoou.
a
bíblia diz que Deus perdoa nossos pecados e deles não mais se lembra.
só que as pessoas pensam que quando a bíblia
diz que deus perdoa e esquece acham que Deus tem amnésia. mas, Deus
não tem amnésia. Deus é onisciente.
então
o que quer dizer que Deus perdoa e esquece? quer dizer que Deus nunca lança em seu rosto aquele
pecado que ele já perdoou.
Deus nunca mais
vai cobrar uma dívida de
você que ele já perdoou.
é assim que é perdão. jamais você esquecerá uma sena. mas,
quando vier à memória você dirá: essa dívida já foi paga. por isso perdoar é
lembrar sem sentir dor.
portanto,
não guarde mágoas. tome
a decisão de perdoar. porque o perdão cura, o perdão liberta, o
perdão restaura, o perdão renova a alma.
vejamos
o exemplo do diácono Estevão,
o primeiro mártir do cristianismo.
no
momento que estava sendo apedrejado e
morto ele não pediu vingança e nem juízo de Deus aos seus algozes. está escrito
assim a respeito dele:
“e, pondo-se de joelhos, clamou com grande voz: senhor,
não lhes imputes este pecado” (atos
7:30).
II. em cristo, Deus pagou as nossas dívidas
1.
a nossa dívida era impagável.
na
parábola, o servo foi apresentado diante do rei e sua dívida era de dez mil
talentos.
como
já disse anteriormente, 10 mil talentos correspondiam a 350 mil quilos de ouro
ou prata. para um homem ajuntar 10 mil talentos ganhando 1(um) denário por dia
ele teria que trabalhar, ininterruptamente, durante 150 mil anos.
jesus
quis mostrar que se tratava de uma quantia impagável.
esta
dívida impagável simboliza o pecado do homem e o que ele representa diante de Deus.
assim
como o servo não tinha como pagar uma dívida desta natureza, o homem,
por si só, não tem como saldar a sua dívida diante de deus resultante
do pecado que cometeu.
como o homem é um ser dotado de livre-arbítrio, de liberdade,
ele pôde escolher entre obedecer a Deus, ou não (gn.2:16,17).
com
a queda, tornou-se devedor de Deus, ficou em débito, perdeu o crédito que tinha diante do senhor.
uma
dívida impagável para com deus. todos os recursos existentes no universo são
insuficientes para o resgate de uma só alma (sl.49:6,8).
“aqueles que confiam na sua fazenda e se gloriam na multidão das
suas riquezas, nenhum deles, de modo algum, pode remir a seu irmão ou dar a Deus
o resgate dele (pois a redenção da sua alma é caríssima, e seus recursos se
esgotariam antes)”.
na
parábola, jesus diz, claramente, que o servo não tinha com que pagar a dívida.
assim é a situação do homem: não há como se pagar a dívida gerada pelo
pecado, que é representado, aqui, por dez mil talentos.
o
pecado tem de ser removido, pois
o homem não consegue, por si só, remover o pecado.
foi
este o trabalho efetivado por cristo,
o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (joão 1:29b). ele pagou
plenamente as nossas dívidas.
ali
na cruz ele eliminou a grande dívida que
era contra nós; deus em cristo pagou as nossas dívidas.
na
parábola, enquanto o servo pedia um prazo para fazer o pagamento, prazo que seria mais uma tolerância, já
que a dívida era impagável, o rei resolve, simplesmente, dado
a sua condição de soberano, perdoar a dívida.
jesus
mostra-nos, portanto, que, por vontade unilateral de Deus, pela
sua graça salvadora, alcançamos a possibilidade, não de ter um prazo maior para
pagamento, não de adiamento da execução da dívida, mas, muito mais do que
isto, temos a possibilidade de termos a nossa dívida simplesmente perdoada,
quitada, paga.
o
rei eterno quis fazê-lo.
para tanto, mandou jesus para morrer em nosso lugar na cruz do calvário.
por
isso, na cruz, jesus exclamou: “teletestai”, ou
seja, “está consumado”; que significa: “está
pago”, quitado.
jesus
pagou o preço da nossa salvação, pagou, com a sua vida imaculada, a dívida que
tínhamos para com deus.
“havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas
ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de
nós, cravando-a na cruz”.
portanto,
estamos livres da condenação do pecado.
são as escrituras sagradas que nos asseguram que "nenhuma
condenação há para os que estão em cristo jesus, que não andam segundo
a carne, mas segundo o espírito" (rm.8:1).
2.
o perdão foi decidido, mas não formalizado.
o
texto sagrado diz que o rei soltou o servo e lhe perdoou a dívida (mt.18:27).
mas,
era necessário que se tivesse a quitação, ou seja, um ato pelo qual atestasse inequivocamente que
o devedor pagou a dívida. é o que o povo comumente chama de “recibo”.
segundo
a lei judaica, uma
obrigação assumida por escrito, somente seria considerada cancelada
quando se destruísse o documento que a continha, o que, aliás, também se
dava na lei romana, o que explica a figura usada pelo apóstolo Paulo na carta aos colossenses, para dizer que a
nossa cédula (isto é, o documento que continha a nossa dívida) fora
riscada e se encontrava cravada na cruz de cristo (cl.2:14).
o
rei estava ainda em prestação de contas e não há notícia na parábola de que a cédula havia sido
riscada, de que o perdão havia sido formalizado.
portanto,
não tinha ocorrido a quitação, apesar
de já haver a decisão de perdão, tanto que o servo foi solto e não mandado
para a prisão.
isto
nos fala de que o fato de adorarmos a Deus, aceitado nos
submeter a ele, assim como o servo fez diante do rei, não garante,
de pronto, que nos mantenhamos nesta situação até o final.
com efeito, somos perdoados e, imediatamente, somos libertos, somos
soltos, pois conhecemos a verdade e a verdade nos libertou (jo.8:36).
entretanto,
isto não significa que não se possa perdê-lo, pois ainda não há o “recibo” da
quitação, a formalização deste perdão.
na
parábola, o perdão só seria tornado irreversível no instante em que, trazido novamente à presença
do rei, o servo obtivesse o “comprovante” de quitação, a destruição
dos documentos do débito.
até
então, deveria continuar servindo, agora liberto da dívida, agradando ao rei.
no
entanto, na sequência da parábola, vemos que o servo assim não procedeu, e a dívida voltou a status quo.
espiritualmente
falando, isto pode ocorrer com qualquer um de nós.
fomos
libertos pelo senhor
jesus dos nossos pecados. a partir de então, devemos
correr com paciência a carreira que nos está proposta, ou seja, passar a
viver de acordo com a vontade de Deus, mantendo-nos separados do pecado
a cada instante, até o fim de nossa carreira, quando, então,
seremos novamente chamados à presença do senhor, seja por ocasião de
nossa morte (hb.9:27), seja por ocasião do
arrebatamento da igreja (i ts.4:17).
III.
uma vez perdoados, agora perdoamos
o
perdão do rei estava exclusivamente fundado em seu amor, em sua misericórdia. jesus diz que o rei
foi movido de íntima compaixão.
o
servo não tinha direito algum, seja ao perdão da dívida, seja a um novo prazo. o que lhe foi dado foi por causa da
compaixão, da misericórdia do rei.
entretanto,
o servo não usou de misericórdia e
lançou o conservo na prisão.
sabendo
disso, o rei revogou o perdão da dívida e mandou lançá-lo na prisão, deixando-o à
disposição dos atormentadores.
jesus
exortou dizendo que assim seu pai tratará os que não perdoarem as ofensas dos
seus irmãos.
portanto,
uma vez que recebemos o perdão de Deus, devemos agora perdoar aqueles que nos
tem ofendido.
· o
perdão é uma necessidade vital para nossa alma, para nosso bem-estar.
todavia,
perdoar não é fácil. um
certo escritor disse que o perdão “tem a enlouquecedora qualidade de
ser não merecido, injusto e sem mérito “. ele está certo.
é
fácil pregar um sermão sobre o perdão até se
deparar com alguém para perdoar.
mas
jesus cristo nos informa e
nos ensina que:
- Se
eu não perdoar não posso orar.
- Se
eu não perdoar não posso adorar.
- Se
eu não perdoar não posso ofertar.
- Se
eu não posso perdoar eu não posso ser perdoado.
- Se
eu não perdoar, eu adoeço fisicamente, emocionalmente, espiritualmente.
- Se
eu não perdoar, a minha alma, a minha vida será entregue aos verdugos da
consciência e eu ficarei cativo e prisioneiro, sem paz.
· o
perdão é uma terapia para a alma, um tônico para o coração, uma condição
indispensável para a saúde emocional e física.
muitas
enfermidades deixariam de existir se aprendêssemos a terapia do perdão.
quem
não perdoa adoece física, emocional e espiritualmente.
o
perdão é o remédio necessário que
tonifica o coração para caminharmos pela vida sem amargura.
sem
perdão a vida torna-se um fardo insuportável e a alma fica prisioneira do ódio e da
vingança.
sem
perdão somos destruídos pelos nossos sentimentos.
· o
perdão não é simplesmente uma questão de ação, mas de reação.
jesus
ilustra isso no sermão do monte (mt.5:39-41).
ele diz que:
- Quando uma pessoa nos ferir a face
direita, devemos voltar-lhe a outra face.
-
Quando a pessoa nos forçar a andar uma milha, devemos ir com ela duas milhas.
-
Quando uma pessoa procurar nos tirar a capa, devemos dar-lhe também a túnica.
o
que, na verdade, jesus estava ensinando? ele não estava falando de ação, mas
de reação.
o
que representa essas três figuras alistadas
por jesus?
primeiro, quando uma pessoa nos fere no rosto, ela agride a
nossa honra.
segundo, quando uma pessoa nos força a fazer o que não desejamos,
ela agride a nossa vontade.
terceiro, quando uma pessoa nos toma as vestes pessoais, ela agride
o nosso bem mais íntimo e sagrado.
jesus,
então, realça que mesmo que os pontos mais vitais da vida sejam
atingidos - como a honra, a vontade e os bens inalienáveis -, devemos
reagir transcendentalmente, ou seja, com perdão.
· o
perdão é a transcendência do amor, é vencer o mal com o bem.
-
Perdoar é tratar o outro não como ele merece, mas segundo a misericórdia exige.
-
Perdoar é renunciar aos seus direitos.
-
Perdoar é colocar o outro na frente do eu.
-
Perdoar é não se ressentir do mal,
mas vencer o mal com o bem, abençoando o próprio malfeitor.
· o
perdão é uma via de mão dupla.
“... perdoai e sereis perdoados” (lc.6:37). aqui, jesus mostra que o perdão é uma
via de mão dupla.
você
já percebeu que na palavra perdoar tem a palavra doar?
quem
perdoa está doando alguma coisa.
de
certa forma misteriosa, o perdão de deus depende de nosso perdão.
o
que jesus ensinou na oração do pai nosso? (mt.6:12). duas
vezes ele fala sobre o perdão.
ele
diz assim: “perdoa as nossas dívidas,
assim como nós perdoamos”. depois no versículo 15 ele diz: “se, porém, não perdoardes aos homens vosso pai celestial
também não vos perdoará”.
portanto, se
eu não perdoar, eu também não recebo perdão de deus, pois é uma via
de não dupla.
jesus
termina a parábola do credor incompassivo assim:
“assim também meu pai celeste vos fará, se do
íntimo não perdoardes cada um a seu irmão”.
CONCLUSÃO
aprendemos
nesta aula que o perdão deve ser, antes de tudo, uma
decisão pessoal, uma manifestação que venha do interior da pessoa.
muitos
se contentam com o “perdão de boca”, com o “perdão
sem esquecimento”, com o “perdão aparente”, com
o “perdão cerimonial”.
entretanto,
jesus não é aquele que se impressiona com as aparências, mas que conhece o que há no coração do
homem (joão 2:24,25).
de nada adiantam as encenações, as lágrimas de crocodilo, os choros
e as representações teatrais.
o perdão deve ser algo que venha do coração, sem o que nenhum valor terá
diante de Deus.
Deus
nos perdoou do seu íntimo,
de sua própria essência e quer que assim façamos.
somente
este perdão verdadeiro,
que lança no mar do esquecimento as ofensas sofridas, que não tem rancor,
receio ou desconfiança, é o perdão que produz a manutenção de nossa
comunhão com Deus.
tudo
o mais é hipocrisia que
redundará, implacavelmente, em prejuízo espiritual eterno. APRENDAMOS, POIS, A PERDOAR!
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