sexta-feira, 6 de junho de 2025

O VOTO DE JEFTÉ

 

O VOTO DE JEFTÉ

Texto Bíblico:  Juízes 11: 30 -32

30 E Jefté fez um voto ao Senhor, dizendo: Se tu me entregares na mão os Amonitas,

31 qualquer que, saindo da porta de minha casa, me vier ao encontro, quando eu, vitorioso, voltar dos Amonitas, esse será do Senhor; eu o oferecerei em holocausto.

32 Assim Jefté foi ao encontro dos Amonitas, a combater contra eles; e o Senhor lhes entregou na mão.

A história do voto de Jefté no livro de Juízes 11:31 é uma das passagens mais debatidas e trágicas da Bíblia. Jefté era um juiz de Israel, um guerreiro valente, mas sua origem e o voto que ele fez o levaram a um dilema terrível.

Contexto do Voto

Jefté estava prestes a lutar contra os Amonitas, um inimigo de Israel. Antes da batalha, ele fez um voto ao Senhor, buscando a vitória. Em Juízes 11:30-31, está escrito: "Jefté fez um voto ao Senhor e disse: 'Se me entregares os Amonitas nas minhas mãos, então aquilo que sair da porta da minha casa ao meu encontro, quando eu voltar vitorioso dos Amonitas, será do Senhor, e eu o oferecerei em holocausto'".

Deus concedeu a vitória a Jefté sobre os Amonitas. Contudo, ao retornar para casa, a primeira pessoa que saiu ao seu encontro para saudá-lo foi sua única filha.

As Interpretações do Voto

A grande questão e o cerne do debate sobre o voto de Jefté é o que exatamente ele fez com sua filha. Existem duas principais linhas de interpretação:

  1. Sacrifício Humano Literal: Muitos estudiosos e a interpretação mais tradicional defendem que Jefté de fato sacrificou sua filha como um holocausto. A linguagem do texto ("oferecerei em holocausto") é a mesma usada para sacrifícios de animais. Se essa interpretação for correta, o voto de Jefté foi uma tragédia imensa e uma ação que contrariava explicitamente a Lei de Moisés, que proibia veementemente o sacrifício humano (Levítico 18:21; Deuteronômio 12:31). Isso levantaria questões sobre como Deus, que proibiu tais práticas, permitiu que a vitória fosse concedida após um voto tão imprudente, e como Jefté é mencionado como um homem de fé em Hebreus 11. Alguns argumentam que Jefté, vivendo em uma época de grande confusão espiritual em Israel (onde "cada um fazia o que bem lhe parecia", Juízes 21:25), pode ter sido influenciado por práticas pagãs da época, sem compreender completamente a vontade de Deus.
  2. Dedicação ao Senhor (Celibato ou Serviço no Tabernáculo): Outra corrente de interpretação sugere que Jefté não sacrificou sua filha literalmente, mas a dedicou ao serviço exclusivo do Senhor, o que implicaria em uma vida de celibato e serviço no Tabernáculo. Os argumentos para essa interpretação incluem:
    • A Lei de Moisés proibia o sacrifício humano.
    • A filha de Jefté pediu dois meses para lamentar sua virgindade, não sua morte iminente. Isso poderia indicar que ela estaria se dedicando a uma vida sem casamento e filhos, o que para uma mulher israelita da época significava o fim de sua linhagem e a perda da esperança de participar na futura glória de Israel através de descendentes.
    • O texto em Juízes 11:39 diz que Jefté "fez dela segundo o voto que tinha feito; e ela não conheceu varão". Isso pode ser interpretado como uma referência à sua virgindade perpétua, não à sua morte.
    • Jefté é listado entre os "heróis da fé" em Hebreus 11:32, o que alguns veem como difícil de conciliar com a ideia de que ele cometeu um sacrifício humano abominável.

Reflexões sobre o Voto

Independentemente da interpretação exata do cumprimento do voto, a história de Jefté serve como uma poderosa lição sobre:

  • Votos Impensados: O voto de Jefté foi precipitado e feito em um momento de intensidade. Ele prometeu algo sem considerar as possíveis consequências. A Bíblia adverte sobre fazer votos irrefletidos (Eclesiastes 5:4-5).
  • A Santidade da Vida Humana: Se o sacrifício humano literal ocorreu, isso enfatiza a natureza pecaminosa da ação e o contraste com os mandamentos de Deus.
  • As Consequências: Seja qual for a interpretação, o voto trouxe grande dor e tragédia para Jefté e sua filha. Ele perdeu a esperança de uma descendência, o que era de grande importância na cultura da época.
  • A Soberania de Deus e a Responsabilidade Humana: Deus concedeu a vitória a Jefté, mas isso não significa que Ele aprovou o voto ou a maneira como ele foi feito ou cumprido. A história de Jefté é um lembrete de que, mesmo quando o Espírito do Senhor vem sobre uma pessoa (Juízes 11:29), isso não anula sua liberdade moral ou a responsabilidade por suas escolhas.

O voto de Jefté é uma passagem complexa que continua a gerar discussões, mas sua principal mensagem é a cautela em nossas promessas e a importância de buscar a vontade de Deus em todas as nossas ações.

 

JEFTÉ NA VERDADE SACRIFICOU SUA FILHA? UMA ANÁLISE DE JUÍZES 11:31

Jefté nos é apresentado com o mesmo título dado a Gideão, “homem valoroso” (Juízes 11:1). Novamente, nós não consideramos sua história como um homem, mas sua fé, que era de Deus.

Ele era alguém que temia Jeová. Em suas palavras iniciais ele chama Jeová para testemunha; e posteriormente “falou todas as suas palavras perante o Senhor em Mispa” (v. 11)

Sua mensagem para o rei de Amom (v. 14-27) mostra que ele era bem versado na história de seu povo, conforme registrado no “livro da Lei”. Ele deve tê-la estudado atentamente e para algum propósito; porque ele não somente sabia os eventos históricos como fatos, mas os reconhecia como sendo ordenados por Jeová.

Ele traçou tudo para Jeová. Foi Ele que “deu a Siom, com todo o seu povo, na mão de Israel"(v.21). Foi Jeová, Deus de Israel, que desapossou os Amorreus de diante de Seu povo (v.23). O que Jefté e Israel agora possuem foi o que Deus havia dado a eles (v. 24). E foi Jeová, o Juiz, quem ele chamou para julgar entre Israel e Amom (v. 27).

Jefté ouvira as palavras de Jeová conforme escritas nas Escrituras da verdade; e acreditou nelas.

Isto é exatamente um exemplo do que o Apóstolo cita em Hebreus xi. Ele, também, conhecia a história em que Jefté acreditava, e a fé que conquistou através de Deus.

Isto é o que dá a Jefté seu lugar nesta grande “nuvem de testemunhas”.

Quando ele então chamara Deus para julgar, nós lemos: “Então o Espírito do SENHOR veio sobre Jefté,” e nós de novo notamos nas palavras que isto descreve a ação do Espírito Santo nessa dispensa (v.29).

No poder do espírito sagrado, Jefté empreendeu a guerra com Amom, e Jeová coroou sua fé entregando os Amonitas em suas mãos (v.32).

Esta é a simples conta excedente da fé superadora de Jefté; e há pouco a ser acrescentado a isso. Ele tinha simplesmente lido o que Jeová havia feito; e então ouviu o que Ele havia dito. Ele acreditou no que havia então lido e ouvido, e isto é o suficiente para ocasionar que ele seja colocado entre os "antigos que receberam bom testemunho” por conta de sua fé.

Mas no caso de Jefté, como em nenhum outro, nós nos sentimos compelidos a sair de nosso caminho para vindicar a Jefté o que nós mostraremos ser o julgamento injusto dos homens.

Sua fé forjada por Deus não pode ser manchada sem a garantia clara e certa da palavra de Deus em si.

Tal como Moisés, Jefté “falou imprudentemente com seus lábios”, mas isto não tocou sua fé em relação ao que ele havia ouvido de Deus; seu voto foi feito de acordo com seu zelo, e não de acordo com seu conhecimento. É uma teoria inacreditável que ele sacrificaria sua filha, e que Deus não reprovaria com uma palavra de desaprovação um sacrifício humano. Isso é somente uma interpretação humana, na qual os teólogos têm pensado diferente ao longo de todas as eras, e que tem sido alcançada sem um exame cuidadoso do texto.

É importante lembrar que o antigo comentarista Judeu Rabi David Kimchi (1160-1232) traduz as palavras do voto (Juízes 11:31) de forma muito diferente da A.V. (nota do editor: A.V. = a versão inglesa autorizada, ou mais conhecida como a Versão do Rei James) e a R.V. (nota do editor: R.V. = a versão inglesa revisada), e ele nos conta que seu pai Rabi Joseph Kimchi (morto em 1180) manteve a primeira visão. Tanto o pai quanto o filho, juntos com o Rabi Levi bem Gerson (nascido em 1288), todos eles entre os mais eminentes dos gramáticos e comentaristas hebraicos, que poderiam conhecer melhor do que qualquer comentarista gentil, deram sua aprovação inadequada para a tradução das palavras do voto que, em vez de fazê-la relacionada a um objeto, traduzem e interpretam-na como consistindo em duas partes distintas.

Isto é feito observando-se a regra bastante conhecida na qual a partícula conectiva ו (vau, nosso “v” em português) é frequentemente usada como um disjuntivo, e significa “ou”, onde existe uma segunda parte na sentença. Isto de fato é sugerido pela A.V. como uma forma alternativa de traduzir esta palavra no texto de Juízes 11:31.

Note do editor: Em outras palavras, enquanto nossas traduções normalmente traduzem o voto de Jefté conforme se segue:

Juízes 11:30-31
“E Jefté fez um voto ao Senhor, e disse: “se totalmente deres os filhos de Amom na minha mão, aquilo que, saindo da porta de minha casa, me sair ao encontro, voltando eu dos filhos de Amom em paz, isso será do Senhor, o oferecerei em holocausto”.

O que o autor está nos dizendo é que a palavra sublinhada "E" é a palavra hebraica "vau", que é frequentemente usada como disjuntiva e, portanto, deveria ter sido traduzida como "OU" em vez de "E". Após se fazer esta correção o texto de Juízes 11:30-31 seria lido como:

“E Jefté fez um voto ao Senhor, e disse: “se totalmente deres os filhos de Amom na minha mão, aquilo que, saindo da porta de minha casa, me sair ao encontro, voltando eu dos filhos de Amom em paz, isso será do Senhor, OU o oferecerei em holocausto”.

Fim da nota do editor.

Abaixo estão algumas passagens onde a palavra “vau” é usada com o significado de “ou” e não com o significado de “e”:

Gênesis 41:44

“E disse Faraó a José: Eu sou Faraó; porém sem ti ninguém levantará a sua mão OU o seu pé em toda a terra do Egito.”

Êxodo 21:15

“O que ferir a seu pai, OU a sua mãe, certamente será morto.”

Êxodo 21:17

“E quem amaldiçoar a seu pai, OU a sua mãe, certamente será morto.”

Êxodo 21:18

“Se dois homens pelejarem, ferindo-se um ao outro com pedra OU com o punho, e este não morrer, mas cair na cama”

Deuteronômio 3:24

“que Deus existe no céu OU na terra” etc.

2 Samuel 3:29

“Caia sobre a cabeça de Joabe e sobre toda a casa de seu pai, e nunca na casa de Joabe falte quem tenha fluxo, OU quem seja leproso, OU quem se atenha a bordão, OU quem caia à espada, ou quem necessite de pão.”

1 Reis 18:27

“E sucedeu que ao meio-dia Elias zombava deles e dizia: Clamai em altas vozes, porque ele é um deus; pode ser que esteja falando, OU que tenha alguma coisa que fazer, OU que intente alguma viagem; talvez esteja dormindo, e despertará.”

Com uma negativa, a tradução “NEM” está igualmente correta e conclusiva:

Êxodo 20:17

“Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, NEM o seu servo, NEM a sua serva, NEM o seu boi, NEM o seu jumento, NEM coisa alguma do teu próximo.”

Números 16:14

“Nem tampouco nos trouxeste a uma terra que mana leite e mel, NEM nos deste campo e vinhas em herança; porventura arrancarás os olhos a estes homens? Não subiremos.”

Números 22:26

“Então o anjo do SENHOR passou mais adiante, e pôs-se num lugar estreito, onde não havia caminho para se desviar nem para a direita NEM para a esquerda.”

Deuteronômio 7:25

“As imagens de escultura de seus deuses queimarás a fogo; a prata e o ouro que estão sobre elas não cobiçarás, NEM os tomará para ti, para que não enlaces neles; pois abominação é ao SENHOR teu Deus.”

1 Reis 18:10

"que não houve nação NEM reino aonde, o meu senhor, não mandasse em busca de ti.”

2 Samuel 1:21

“nem chuva cai sobre vós, NEM haja campos de ofertas alçadas”

Salmos 26:9

“Não apanhe a minha alma com os pecadores, NEM a minha vida com os homens sanguinolentos".

Provérbios 6:4

“Não dês sono aos teus olhos, NEM deixes adormecer as tuas pálpebras.”

Provérbios 30:3

“Nem aprendi a sabedoria NEM tenho o conhecimento do santo.”

Nós estamos agora em uma posição para ler e entender a palavra do voto de Jefté, onde nós temos a mesma palavra, ou ainda a letra que o representa, em hebraico.

“E Jefté fez um voto (i.e., fez um voto solene) ao Senhor,” que ele tinha perfeitamente direito para fazer isso.

Tal voto proporcionou na Lei que prescreveu exatamente o que era para ser feito em tais casos; e ainda quando o voto afetava uma pessoa (como ocorreu aqui) essa pessoa poderia ser redimida se isso fosse desejado. Veja em Lev. 27 onde nos versículos 1-8 ele afetou “pessoas”, nos versículos 9-13 onde ele afeta “bestas”, e nos versos 14-15, uma casa.

Assim parece claro que o voto de Jefté consistiu em duas partes, uma alternativa à outra. Ele ou a dedicaria a Jeová (de acordo com Lev. 27), ou, se for impróprio para isto, ele o oferecerá como holocausto.

Deveria ser notado que, quando ele disse “aquele que tiver vindo às portas de minha casa para me encontrar,” a palavra “aquele” é masculina. Mas o emissor de sua casa era feminino, e, portanto, não poderia vir, propriamente, dentro da esfera de seu voto, certamente não de acordo com o significado literal de suas palavras.

Em qualquer caso, deveria ter sido ilegal e repugnante para Jeová oferecer um ser humano a Ele como holocausto, para Sua aceitação.

Tais ofertas eram comuns para nações pagãs naquele tempo, mas é digno de nota que Israel permanece entre eles com sua grande peculiaridade, que os sacrifícios humanos eram desconhecidos em Israel.

Está registrado que Jefté “cumpriu nela o seu voto que tinha feito; e ela não conheceu nenhum homem” (v. 39). O que isto tem a ver com o holocausto, de uma forma ou outra?

Mas isto tem tudo a ver com a primeira parte de seu voto, ao dedicá-la a Jeová. Isto parece ser conclusivo. Isto não tem nada a ver com uma morte em sacrifício, mas tem a ver com uma vida dedicada. Ela se dedicou a uma virgindade perpétua.

Para o que, além disso, o “costume de Israel” cita (v. 39,40) quando “as filhas de Israel iam de ano em ano lamentar, por quatro dias, a filha de Jefté, o gileadita” (v.40).

A palavra traduzida como “lamentar” ocorre somente em outra passagem na Bíblia hebraica, e isso ocorre de ser neste próprio livro. Dessa forma nós não pudemos possivelmente ter um guia mais claro para este significado.

A passagem está em Juízes 5:11, “Ali falai das justiças do Senhor.” Isto significa conversar com os outros, portanto, pesquisar juntos. Isto sendo feito anualmente, os amigos da filha de Jefté foram falar com ela, isto continuou a virgindade de sua vida, e não para lamentar o fato passado de sua morte.

Nós podemos concluir de todo o teor da escritura, assim como dos Salmos 106:35-38, Isaías 57:5 etc., que os sacrifícios humanos eram uma abominação aos olhos de Deus; e não podemos imaginar que Deus aceitaria, ou que Jefté ofereceria sangue humano. Sustentar esta ideia é uma difamação de Jeová, assim como de Jefté.  (. W. Bullinger)

 

 CUMPRINDO OS VOTOS DIANTE DE DEUS

Texto Básico: Pv 5:1-5

“Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos; o que votares, paga-o” (Ec 5:4).

INTRODUÇÃO

Nos capítulos 1 a 4 de Eclesiastes, Salomão já havia tratado praticamente de tudo aquilo que acontece “debaixo do sol”. Reconheceu-se a “vaidade” da terra (Ec 1:2-2:23), considerou-se à luz da vida que Deus nos concede (Ec 2:24-26), e de sua soberania (Ec 3:1-15); falou-se da injustiça (Ec 3:16-22) e várias formas de solidão (Ec 4:1-16) (1).  Salomão mostrou que o conhecimento sem o temor de Deus não é sabedoria, mas estultice. Da mesma forma ele mostra que a busca pelo prazer e lazer pode ser simplesmente correr atrás do vento”, se não tiverem como fim último a adoração a Deus. Agora Salomão, no capítulo 5 de Eclesiastes, expõe uma série de conselhos práticos, onde inicia falando a respeito da vida religiosa e da reverência que é devida na Casa de Deus (Ec 5:1).

I. OBRIGAÇÕES FRENTE À SANTIDADE DE DEUS

1. Reverência. “Guarda o teu pé, quando entrares na Casa de Deus; e inclina-te mais a ouvir do que a oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal” (Ec 5:1). Vivemos numa época ímpar: a época da irreverência. Nada é considerado sagrado nestes dias pós-modernos: religião, sexo, fé, família; tudo pode ser zombado, satirizado e distorcido. Há uma urgente necessidade de resgatarmos o respeito e reverência para com Deus e Sua palavra. Há os que se dirigem ao Grande, Todo-poderoso e Santo Deus, que habita na luz inacessível, como se dirigissem a um ser humano qualquer ou a um animal. Tais devem lembrar-se de que se acham à vista daquele a quem serafins adoram, perante quem os anjos velam o rosto.

Não há dúvida de que se amarmos a Deus, teremos reverência, e reverência significa mais do que dar louvores ou ajoelhar-nos quando oramos. O poeta Alemão Goethe declarou: "A alma da religião cristã é a reverência". Certa vez, Jesus entrou no Templo e ficou indignado com a falta de reverência das pessoas. O louvor e a adoração haviam sido substituídos pelo comércio (Mt 21:12). O que se ouvia ali não eram aleluias e glórias ao Todo-Poderoso, mas o grito dos cambistas e dos que comercializavam os pombinhos que eram utilizados nos sacrifícios. O Mestre ficou indignado! Jesus colocou toda aquela "turma" no seu devido lugar. O louvor, a adoração e a oração estavam sendo substituídos.

Na Antiga Aliança, os israelitas para se apresentarem diante de Deus era necessário sacrifícios e a intervenção de um sacerdote.  Hoje temos livre acesso a Deus, não precisamos realizar todo o ritual litúrgico do culto levítico, porém não significa que em nossos cultos não devemos seguir uma liturgia santa, bíblica. Paulo ao ensinar a respeito do culto diz que tudo deve ser feito para a edificação: "Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação" (1Co 14:26).

Muitas vezes não experimentamos a graça de Deus porque nossa postura para com ele não é adequada. Alguém descreveu assim o culto: “Cultuar é avivar a consciência pela santidade de Deus, alimentar a mente com a verdade de Deus, purificar a imaginação pela beleza de Deus, abrir o coração ao amor de Deus, devotar a vontade aos propósitos de Deus”. Se não temos uma postura adequada, nada disso acontece num culto, muito pelo contrário, o que acontece pode ser exatamente o oposto de tudo isso. A mente permanece distraída, a imaginação é dominada por futilidades, o coração se fecha e a vontade é que tudo aquilo termine o mais rápido possível.

O culto público é a ocasião em que todos nós, criados à imagem e semelhança de Deus, cumprimos o propósito para o qual fomos criados. É por isso que nenhum de nós comparece ao culto para “assistir” como se fosse espectador, como se estivesse num teatro ou cinema. Todos fomos chamados para adorar e oferecer a Deus um coração compungido, humilde, contrito e grato, que é o coração do adorador.

Portanto, devemos ser reverentes diante de Deus: porque somos criaturas; porque reconhecemos nossa situação pecaminosa; porque apesar de termos pecado, a cruz de Cristo nos alcançou e esse infinito amor nos constrange; porque o nome de Deus representa seu caráter. Como seres humanos nosso dever é: temer e obedecer, para que um dia possamos vê-lo face a face.

2. Obediência. Não podemos reverenciar a Deus sem obedecer-lhe. Muitos aceitam facilmente a Jesus como Salvador, mas nem todos querem aceitá-Lo como o Senhor de suas vidas. O sumário do Livro de Eclesiastes (Ec 12:13) deixa claro qual é o dever do homem: “De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque este é o dever de todo homem”.

Seremos avaliados em termos da nossa obediência aos mandamentos de Deus. A Bíblia diz em Mateus 5:19: “Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus”.

A obediência é um dos resultados de amar a Deus. A Bíblia diz em João 14:15,23: “Se me amardes, guardareis os meus mandamentos. … Respondeu-lhe Jesus: Se alguém me amar, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos a ele, e faremos nele morada”.

O Espírito Santo só será dado àqueles que obedecem a Deus. A Bíblia diz em Atos 5:32: “E nós somos testemunhas destas coisas, e bem assim o Espírito Santo, que Deus deu àqueles que lhe obedecem”.

Jesus obedeceu ao Seu Pai dando-nos um exemplo de como devemos obedecer ao Senhore que a salvação é para os que obedecem. A Bíblia diz em Hebreus 5:8-9: “Embora sendo Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu e, tendo sido aperfeiçoado, tornou-se o Autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem” (Hb 5:8,9).

 

II. OBRIGAÇÕES FRENTE À TRANSCENDÊNCIA DE DEUS

Deus é Espírito infinito, sem fronteiras ou limites tanto quanto ao seu Ser como quanto aos seus atributos, e cada aspecto e elemento de sua natureza é infinito. Essa natureza infinita, em relação ao tempo, é chamada eternidade, e em relação ao espaço é chamada onipresença. Em relação ao universo, ela implica tanto em transcendência como em imanência.

Por transcendência de Deus se entende que Ele está separado de toda a sua criação como um Ser independente e autoexistente (Dt 4:15-20). Deus está além de suas criaturas, como afirma o Eclesiastes: “Deus está nos céus, e tu estás sobre a terra (Ec 5:2b). Ele não está limitado pela natureza, mas existe infinitamente exaltado sobre ela. Até mesmo aquelas passagens das Escrituras que salientam suas manifestações temporais e locais dão ênfase à sua exaltação e onipotência como Ser externo ao mundo, como seu soberano Criador e Juiz (cf Is 40:12-17).

1. Deus, o criador. Para os que aceitam a Bíblia como fonte de inspiração e de respostas às inquietações da alma, Deus é o Ser Supremo, o Criador do Universo, do Homem e de todas as coisas. A grandeza da criação de todas as coisas, a imensidão do universo e, no nosso planeta, de tudo o que foi criado, tem por finalidade mostrar ao homem a glória de Deus (Sl 19:1). A natureza, dizem os estudiosos da doutrina de Deus, é o primeiro livro escrito por Deus ao homem, de tal maneira que a criação, por si só, é suficiente para revelar Deus ao ser humano e torná-lo sem desculpa diante de uma eventual rejeição ao Seu senhorio (Rm 1:20).

2. Homem, a criatura. O homem foi criado por Deus como a coroa da criação. O relato da criação do homem começa em Gn 1:26,27, para se completar no capítulo 2 com a formação da mulher. A criação do homem é vista em Gn 2:7: "Então formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra, e lhe soprou nas narinas o fôlego da vida, e o homem passou a ser alma vivente". Este versículo mostra que o homem foi feito alma vivente, diferente dos animais pela sua semelhança com Deus. A palavra "formou" dá, no original, a ideia de "manipulação", trabalho com as mãos.

Quando observamos o relato bíblico da criação, de imediato se percebe que o homem foi criado de forma distinta dos demais seres criados na Terra. Enquanto os demais seres foram criados tão somente pela palavra do Senhor, o homem foi objeto de cuidado especial, tendo Deus deixado bem claro que o ser humano seria um ser diferente, pois seria feito à imagem e semelhança de Deus e que, além disso, seria constituído como superior em relação aos demais. A expressão divina de Gn.1:27 encerra, portanto, todos estes elementos, seja o de uma estrutura diversa e distinta dos demais seres, seja a condição de superior aos demais.

O homem foi criado a partir do pó da terra para demonstrar que é parte da natureza. Ele é a síntese da criação terrena. Recebeu o fôlego de vida diretamente de Deus. O homem interior (alma e espírito), considerada a parte imaterial do homem é sinal da sua relação especial e peculiar para com o seu Criador. A alma é considerada a sede dos sentimentos, do entendimento e vontade – é a marca da individualidade de cada ser humano; Já o espírito é a sede da consciência da existência de uma relação de dependência do homem em relação a Deus – é a ligação do homem com o seu Criador.

Deus criou o homem com o propósito de torná-lo a criatura mais feliz da Terra. A felicidade do homem depende da sua comunhão com Deus. Ele deseja que o homem seja feliz e, por isso, elaborou o plano da salvação.

Esta condição do homem, de ser a “coroa da criação terrena”, é a principal razão de ser dotado de uma dignidade ímpar, que deve ser reconhecida por todos os seres humanos e cujo ataque é o principal objetivo do inimigo de nossas almas. Por isso, quem ama a Deus, ama ao próximo como a si mesmo.


III. OBRIGAÇÕES DIANTE DA IMANÊNCIA DE DEUS

1. Deus está próximo da sua criação.  Deus cuida da sua criação. Isso significa que o nosso Deus não é um Deus distante, que após criar o mundo se ausentou dele, não! Pelo contrário, Ele é um Deus que está presente. Como foi dito acima, cada aspecto e elemento da natureza de Deus é infinito. Essa natureza infinita em relação ao universo, ela implica tanto em transcendência como em imanência. Por imanência de Deus se entende sua presença difundida e seu poder dentro de sua criação. Deus não fica apartado do mundo, como se fosse mero espectador das obras de suas mãos; mas interpenetra cada coisa orgânica e inorgânica, agindo de dentro para fora, do centro de cada átomo e das fontes mais intimas do pensamento da vida e dos sentimentos, uma sequência contínua de causa e efeito. Em Isaias 57:15 temos uma expressão da transcendência de Deus: “o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo”, bem como sua imanência como Aquele que habita “também com o contrito e abatido de espírito”. No capítulo 5 de Eclesiastes, Salomão está falando do culto a Deus e mostra como Ele se identifica com o mesmo, aproximando-o ou reprovando-o: “porque [Deus] não se agrada de todos” (Ec 5:4). Esta mesma verdade é mostrada no Novo Testamento: “Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo” (2Co 6:16). “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles" (Mt 18:20).

2. O valor das orações e votos. “Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos; o que votares, paga-o. Melhor é que não votes do que votes e não pagues” (Ec 5:4,5). Voto é uma forma de promessa solene diante de Deus, que se deve ser cumprida. É melhor deixar de fazer determinado voto, do que fazer e não o cumprir.

No Israel antigo, o voto era geralmente um trato sério, individual com Deus. Temos o voto de Jacó, em Betel, de dar o dízimo se Deus o guardasse na viagem (Gn 28:20) e o voto precipitado de Jefté, que envolveu a filha amada (Jz 11:30,31). E, ainda, o voto de Ana: “E, com amargura de alma, orou ao Senhor, e chorou abundantemente. E fez um voto, dizendo: Senhor dos Exércitos, se benignamente atentares para aflição da tua serva, e de mim te lembrares, e da tua serva te não esqueceres, e lhe deres um filho varão, ao Senhor o darei por todos os dias da sua vida, e sobre a sua cabeça não passará navalha” (1Sm 1:10,11). Cumprindo esta solene promessa, Ana separou Samuel para o ministério tão importante de oração, de ensino e do estabelecimento do reino de Israel.

 

O crente da Nova Aliança ao participar da Ceia do Senhor está também fazendo um voto de viver em santidade e dedicação a Deus. Buscar os prazeres do pecado depois de fazer tal voto a Deus, atrai a si ira e juízo, pois significa que aquele voto era realmente mentiroso. Mentir a Deus pode resultar em castigo severo (veja o exemplo de Ananias e Safira em At 5:1-11).

Os votos num casamento estão intimamente ligados aos votos a Deus, pois são feitos na presença dele. Estamos cumprindo com esses votos que fizemos?

CONCLUSÃO

As observações de Salomão nunca foram tão relevantes como nos dias de hoje. O culto de muitos virou apenas um show. As orações se tornaram pretenciosas e irreverentes. A Deus se “determina” como se deve atender às orações. Há, infelizmente, muitos cristãos que não “guardam o pé” na hora do culto, isto é, não se comportam com o respeito devido diante daquele que é Santo e Todo-Poderoso, e que nos salvou por amor. O texto é contundente: “Guarda o teu pé, quando entrares na casa de Deus; e inclina-te mais a ouvir do que a oferecer sacrifícios de tolos” (Ec 5:1); “Mui fiéis são os teus testemunhos; a santidade convém à tua casa, Senhor” (Salmos 93:5).

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