Texto Bíblico: Atos 9:1-16
“Disse-lhe, porém, o Senhor: Vai, porque este é para mim um vaso escolhido para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis, e dos filhos de Israel. E eu lhe mostrarei quanto deve padecer pelo meu nome” (At 9:15,16).
INTRODUÇÃO
A conversão de Saulo de Tarso, também conhecido como Paulo,
é um evento central na história do cristianismo. Saulo, um judeu fariseu
fervoroso, era um perseguidor implacável dos primeiros seguidores de Jesus. Sua
transformação dramática em um apóstolo de Cristo teve um impacto profundo na
disseminação do cristianismo pelo mundo.
O encontro com Jesus:
- A
caminho de Damasco: Saulo viajava para Damasco com o objetivo de
prender cristãos quando foi repentinamente envolvido por uma luz intensa e
caiu no chão.
- A
voz: Ele ouviu uma voz que lhe dizia: "Saulo, Saulo, por que você
me persegue?". Saulo perguntou quem era, e a voz respondeu: "Eu
sou Jesus, a quem você persegue".
- Cegueira:
Após esse encontro, Saulo ficou cego.
A transformação:
- Ananias:
Em Damasco, um discípulo chamado Ananias foi enviado por Jesus para curar
Saulo. Ananias impôs as mãos sobre Saulo, e ele recuperou a visão.
- Batismo:
Saulo foi batizado e começou a pregar sobre Jesus nas sinagogas,
surpreendendo aqueles que o conheciam como perseguidor.
- Paulo,
o apóstolo: Saulo mudou seu nome para Paulo e se tornou um dos
apóstolos mais influentes do cristianismo, viajando extensivamente e
escrevendo cartas que formam parte significativa do Novo Testamento.
O significado da conversão:
- A
conversão de Paulo é vista como um exemplo poderoso da graça divina e do
poder transformador de Deus.
- Sua
conversão foi fundamental para a expansão do cristianismo além do
judaísmo, alcançando gentios e moldando a teologia cristã.
- As
cartas de Paulo continuam a ser uma fonte de ensinamentos e inspiração
para os cristãos em todo o mundo.
A conversão de Saulo de Tarso é um testemunho notável de
como a fé pode transformar vidas e moldar o curso da história.
I. SAULO DE TARSO
O apóstolo Paulo era inicialmente chamado de Saulo. Nasceu na cidade de Tarso, capital da província romana da Cilícia, costa sul da atual Turquia (At 9:11; 21:39; 22:3). Era fabricante de tendas (ofício que deve ter aprendido quando criança e adolescente em Tarso – cfr. 1Ts 2:9; At 18:3). Depois de Jesus é considerado a figura mais importante do cristianismo. Era um judeu da Diáspora (Dispersão), de uma importante e rica família hebraica tradicional (2Tm 1:3; Fp 3:5; 2Co 11:22; Gl 1:14). Começou a receber desde cedo a formação rabínica, sendo criado de uma forma rígida no cumprimento das rigorosas normas dos fariseus, classe religiosa dominante daquela época, e ensinado a ter o orgulho racial tão peculiar aos judeus da antiguidade.
Quando se mudou para Jerusalém, para se tornar um dos principais dos sacerdotes
do Templo de Salomão, deparou-se com uma “seita” iniciante que tinha nascido
dentro do judaísmo, mas que era contrária aos principais ensinos farisaicos.
Dentro da extrema honestidade para com a sua fé e sentindo-se profundamente
ofendido com esta “seita”, que se chamava cristã, começou a persegui-la,
culminando com a morte de Estêvão, que foi o primeiro mártir do cristianismo.
Com a anuência dos principais dos sacerdotes, Saulo viajou para Damasco atrás
de seguidores do cristianismo. Na entrada desta cidade, teve uma visão de
Jesus, que em espírito lhe perguntava: "Saulo,
Saulo, por que me persegues?". Ficou cego imediatamente.
Foi então levado para a cidade. Depois de alguns dias, um discípulo de Jesus,
chamado Ananias, foi incumbido de orar por ele. Apartir de então, se tornaria o
"Apóstolo dos Gentios", ou seja, aquele enviado para disseminar o
Evangelho para o povo não judeu. Foi especialmente perseguido pelos judeus, que
o consideravam um grande traidor.
Fez quatro grandes viagens missionárias, sendo que na última foi à Roma como
prisioneiro, para ser julgado, e nunca mais retornou para a Judéia.
Ele escreveu pelo menos treze livros do Novo Testamento – de Romanos a Filemon.
Através de suas cartas, Paulo transmitiu às comunidades cristãs e aos seus
discípulos uma fé fervorosa em Jesus Cristo, na sua morte e ressurreição.
No ano de 68 d.C., foi morto pelas Legiões Romanas, nas perseguições aos
Cristãos instauradas por Nero, depois do grande incêndio de Roma.
1. A formação cultural de Paulo.
Paulo estudou em escola de Tarso,
onde teve acesso a todo o pensamento filosófico estóico, que tanto lhe serviria
ao longo do seu ministério (que o diga o seu discurso perante o Areópago em
Atenas — At 17:15-31 — que é uma demonstração de erudição da filosofia grega).
Embora tivesse nascido em Tarso e gozasse da cidadania romana, Paulo era, antes
de tudo, um israelita, da tribo de Benjamim (Rm 11:1) e sua erudição e
inteligência foram, certamente, os principais motivos que o levaram a estudar a
lei com Gamaliel em Jerusalém (At 22:3), o grande mestre fariseu (At 5:34), já
que, tudo indica, seu pai pertencia a esta seita judaica (At 23:6). O
farisaísmo era uma seita ligada ao judaísmo que valorizava a obediência à lei e
a prática dos ritos judaicos.
Em Jerusalém, Paulo completa a sua educação, instruindo-se na lei judaica e
dela se tornando um exímio conhecedor. Tornou-se um religioso contumaz (Fp
3:6). Ele mesmo afirmava que em sua nação, excedia em judaísmo a muitos de sua
idade, sendo extremamente zeloso das tradições de seus pais (Gl1:14). Era um
profundo conhecedor do Antigo Testamento (Rm 1:17; 3:4,510-18; 9:6-33), das
tradições de seu povo (At 26:24; 28:17,18; Gl 1:13-14) e da língua hebraica (At
22:1,2).
Percebemos, assim, nitidamente, que Deus permitiu que Paulo fosse formado nas
letras judaicas, gregas e romanas, para que fosse um eficaz vaso na propagação
do Evangelho entre os gentios a partir de sua conversão. Tudo quanto aprendera
seria utilizado no ministério, tanto que Paulo denomina a todo este
conhecimento de “esterco” (Fp 3:8), ou seja, como fertilizante, como material
que serve para fortalecer, corroborar o conhecimento que adquiriu de Cristo
Jesus. Eis uma demonstração cabal de que o conhecimento secular não é
obstáculo, mas um auxiliar poderoso no ministério de cada cristão e como não
têm razão alguma os inimigos do estudo, os anti-intelectualistas, que,
lamentavelmente, ainda existem aos milhares nas igrejas locais. Se o estudo
secular fosse um mal, um entrave na obra do Senhor, por que Deus teria
preparado durante décadas o apóstolo Paulo?
2. Paulo, cidadão romano. Encontramos em Atos a explicação de
Paulo sobre sua identidade: “Eu sou judeu, natural de Tarso, cidade não
insignificante da Cilícia” (At 21:39). No primeiro século, Tarso era a
principal cidade da província da Cilícia na parte oriental da Ásia Menor. A
cidade era um importante porto que dava acesso ao mar por via do rio Cinido,
que passava no meio dela. O general romano Marco Antônio concedeu-lhe o
privilégio de libera civitas (“cidade livre”) em 42 a.C. Por conseguinte,
embora fizesse parte de uma província romana, era autônoma, e não estava
sujeita a pagar tributo a Roma.
Nessa cidade cresceu o jovem
Saulo.
Paulo não era apenas “cidadão de uma cidade não insignificante”, mas
gozava da cidadania romana, o que, àquela época, era uma prerrogativa de poucas
cidades, o que lhe dava o direito de ser tratado como se fosse um natural de
Roma. A cidadania romana era preciosa, pois acarretava direitos e privilégios
especiais como, por exemplo, a isenção de certas formas de castigo. Um cidadão
romano não podia ser açoitado nem crucificado. Todavia, o relacionamento dos
judeus com Roma não era de todo feliz. Raramente os judeus se tornavam cidadãos
romanos.
Paulo era cidadão romano “por direito de nascimento”.
Em At 22:24-29 vemos Paulo conversando com um centurião romano e com um tribuno
romano (centurião era um militar de alta patente no exército romano com 100
homens sob seu comando; o tribuno, neste caso, seria um comandante militar).
Por ordens do tribuno, o centurião estava prestes a açoitar Paulo. Mas o
Apóstolo protestou: “Ser-vos-á porventura lícito
açoitar um cidadão romano, sem estar condenado?” (At 22:25). O
centurião levou a notícia ao tribuno, que fez mais inquirição. A ele Paulo não
só afirmou sua cidadania romana, mas explicou como se tornara tal: “Por direito
de nascimento” (At 22:28). Isso implica que seu avô ou seu pai fora cidadão
romano.
“Embora conhecesse muito bem os seus direitos como romano (At 22:25-29; 25:10-12,21,27),
era-lhe a cidadania celeste (Ef 2:19; Fp 3:20) mais importante do que os
privilégios concedidos pelos homens” (Claudionor de Andrade –LBM –pg. 66).
II. A CONVERSÃO DE PAULO
A conversão de Paulo se deve apenas a graça soberana de Deus. A graça divina faz com que os seres humanos sejam verdadeiramente humanos. É o pecado que encarcera; a graça liberta. A graça de Deus nos liberta da escravidão do nosso orgulho, preconceito e egocentrismo, fazendo-nos capaz de nos arrepender e crer. Não podemos fazer outra coisa, senão engrandecer a graça de Deus que teve misericórdia de um fanático enfurecido como Paulo, e de criaturas tão orgulhosas, rebeldes e obstinadas como nós.
1. O Encontro com Jesus. A narrativa da conversão de Paulo mostra
que, antes de se encontrar com o Senhor, o então perseguidor da Igreja era
alguém que “respirava ainda ameaças e mortes contra
os discípulos do Senhor”. Paulo, no seu “zelo religioso”, apenas trazia
ameaças e mortes contra o próximo. O “zelo religioso”, sem a presença de Jesus
Cristo na vida do religioso, somente redunda em ameaças e mortes. Não é de
surpreender, portanto, que o “zelo religioso” tenha promovido mortes e
tragédias ao longo da história e continuará a fazê-lo, inclusive o fará durante
o tenebroso governo do Anticristo durante a Grande Tribulação. Não nos
esqueçamos das palavras de Jesus: “… vem mesmo a hora em que qualquer que vos
matar cuidará fazer um serviço a Deus” (João 16:2).
Saulo era mais um destes milhões de fanáticos religiosos que, em seu zelo sem
Cristo, apenas alimentam a violência, o ódio e a dor. De posse das cartas
recebidas do sumo sacerdote com autorização para prender os cristãos que
encontrasse em Damasco e os levasse presos a Jerusalém, tem um encontro no
caminho com o Senhor Jesus.
Saulo e sua escolta (não sabemos quem eram) tinham quase completado sua viagem
de cerca de 240 quilômetros, que deve ter levado por volta de uma semana.
Quando se aproximaram de Damasco, perto do meio-dia, de repente, “uma luz do
Céu brilhou ao seu redor” (Atos 9:3), mais clara do que o sol (Atos 26:13). Foi
uma experiência tão grandiosa que ele ficou cegado (Atos 9:8,9) e caiu por terra
(9:4), prostrado aos pés de seu conquistador (Jesus Cristo). Então uma voz
dirigiu-se a ele (26:14), de forma pessoal e direta: “Saulo, Saulo, por que me
persegues?”. E respondendo à pergunta de Saulo sobre a identidade daquele que
falava, a voz continuou: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues”
(At 9:5). Imediatamente, Saulo deve ter entendido, pela forma extraordinária
como Jesus se identificou com os seus seguidores, que os perseguir era
perseguir a Ele, que Jesus estava vivo e que suas afirmações eram verdadeiras.
Assim obedeceu prontamente à ordem de levantar-se e entrar na cidade, onde lhe
seriam dadas outras instruções. Enquanto isso, os seus companheiros de viagem,
pararam emudecidos, ouvindo a voz, não vendo, contudo, ninguém (At 9:7). Eles
também não entenderam as palavras do orador invisível (Atos 22:9). Mesmo assim,
“guiando-o pela mão, levaram-no para Damasco”
(At 9:8). Ele, que esperava entrar em Damasco na plenitude do seu orgulho e
bravura, como um autoconfiante adversário de Cristo, estava sendo guiado por
outros, humilhado e cego, capturado pelo Cristo a quem se opunha. Não podia
haver dúvidas sobre o que acontecera. O Senhor ressurreto aparecera a Saulo.
Não era um sonho ou uma visão subjetiva; era uma aparição objetiva de Jesus
Cristo ressurreto e exaltado. A luz que viu era a glória de Cristo, e a voz que
ouviu era a voz de Cristo. Cristo interrompeu a sua impetuosa carreira de
perseguição e fez com que se voltasse em direção contrária.
Somente um encontro pessoal com Jesus Cristo pode mudar o caráter de uma
pessoa. Não há conversão sem que se encontre pessoalmente com Jesus Cristo.
Saulo, após se converter, iniciou esta experiência, que alcançou um patamar tão
profundo que, certa vez, afirmou: “… vivo, não mais
eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do
Filho de Deus…” (Gl.2:20).
2. Ananias visita a Paulo (Atos 9:10-19). Três dias haviam
passado desde o seu encontro com Jesus ressurreto, “durante os quais nada comeu
nem bebeu” (9:9). Como bom fariseu, buscou a Deus em jejum, não mais o jejum
ritual e formalista que costumava fazer, mas uma intensa busca de Deus, para
saber qual era a vontade do Senhor para a sua vida, tanto que teve uma visão em
que Ananias orava por ele e lhe restabelecia a vista (At 9:12), que foi
precisamente o que aconteceu, oportunidade em que, demonstrando ser uma pessoa
realmente convertida, aceitou ser batizado nas águas e, nesta ocasião, também
foi cheio do Espírito Santo, ou seja, batizado com o Espírito Santo (At
9:17,18).
A princípio, quando ordenado a visitar Paulo, Ananias vacilou. Ele estava muito
relutante em fazer aquela visita, e sua hesitação era compreensível. Ir até
Saulo seria o mesmo que se entregar à polícia. Seria suicídio. Pois já tinha
ouvido a respeito dele e dos males que havia feito ao povo de Jesus em Jerusalém
(9:13). Ananias também sabia que Saulo viera a Damasco “com autorização dos
principais sacerdotes para prender todos os crentes” (9:14). Mas Jesus repetiu
sua ordem, dizendo: “Vai”; e acrescentou que Saulo era um instrumento escolhido
para levar o seu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel
(9:15) – ministério que lhe traria muito sofrimento por amor a esse mesmo nome
(9:16). Assim, Ananias foi até a Rua Direita (9:11), que ainda é a principal
rua que vai de leste a oeste de Damasco, e entrou na casa de Judas, no quarto
em que estava Saulo. Lá ele lhe impôs suas mãos, talvez para identificar-se com
Saulo enquanto orava pela cura de sua vista e pela plenitude do Espírito Santo
para dar-lhe poder para exercer seu ministério. Imediatamente “lhe caíram dos
olhos como que umas escamas, e tornou a ver”. Depois disso, ele foi batizado
nas águas (9:18), provavelmente por Ananias, que assim o recebeu de forma
visível e pública na comunidade de Jesus. Só depois, Saulo se alimentou e,
então, após três dias de jejum, “sentiu-se fortalecido” (9: 19).
Aqui temos preciosas lições: a conversão genuína leva a pessoa a ter uma vida
de oração e consagração a Deus. Paulo passou a buscar a Deus assim que se
converteu, querendo saber qual a vontade do Senhor para a sua vida. A conversão
genuína leva a pessoa a aceitar o batismo nas águas, a cumprir as ordenanças do
Senhor. A conversão genuína e a busca incessante do Senhor levam-nos ao
revestimento do poder, ao batismo com o Espírito Santo, indispensável para um
ministério eficaz. Por fim, a obra do Evangelho não se limita a salvar a alma,
mas também a curar o corpo; Saulo foi curado da cegueira, para que pudesse
exercer a obra do Senhor. Jesus continua o mesmo: salva, cura e batiza com o
Espírito Santo.
3. Saulo, de perseguidor a perseguido (ler Atos 9:19-25). Os
discípulos em Damasco abriram o coração e os lares para Saulo. Logo, ele
começou a pregar nas sinagogas, proclamando com ousadia que Jesus é o Filho de
Deus. Os ouvintes judeus ficaram consternados, pois, até então, Saulo havia
odiado o nome de Jesus. Agora, estava pregando que Jesus é Deus, que Ele era o
Messias de Israel. Os judeus ficaram tão furiosos
que planejaram tirar a vida daquele que, outrora, havia sido seu defensor, mas
agora era um “apóstata”, um “renegado”, um “vira-casaca”. Para que Saulo
pudesse fugir da cidade, os discípulos o colocaram num cesto grande e desceram-no
por um buraco na muralha da cidade durante a noite. Saulo partiu de forma
humilhante, mas, como todos aqueles que são quebrantados, pôde suportar por
amor a Cristo o opróbrio do qual outros se esquivariam.
III. PROPÓSITOS DA VOCAÇÃO DE PAULO
Paulo, um vaso escolhido, foi chamado por Deus desde o ventre materno (At 9:15,16; Gl 1:15). Isso, porém, não tem nada que ver com predestinalismo, que não leva em consideração a livre-escolha (At 26:19; Dt 30:19; Is 1:18-20; Ap 22:17). É no caminho para Damasco que Jesus Se lhe revela e ocorre a extraordinária conversão (At 9:1-18). Quando orava no Templo, em Jerusalém, após sua conversão, Paulo teve uma experiência pela qual sua vocação foi confirmada (At 22:17-21).
Os propósitos da vocação de Paulo são desenvolvidos nas três narrativas de sua
conversão exaradas no livro de Atos (At 9:3-18; 22:6-21; 26:12-18).
1. Conhecer a vontade de Deus – “E ele disse: O Deus de nossos pais de antemão te
designou para que conheças a sua vontade...”
(At 22:14). Para Paulo conhecer a vontade de Deus era preciso
primeiramente que ele tivesse um encontro pessoal com o Senhor Jesus e houvesse
uma conversão radical de sua vida. O homem natural, orgulhoso, simplesmente
religioso, fanático, materialista, não compreende a vontade de Deus.
Sem arrependimento de pecados, não há genuína conversão. Jesus chama Saulo ao
arrependimento de seus pecados. Saulo tinha de reconhecer que era o
perseguidor, embora isto fosse extremamente penoso para sua mente, concepções e
viver. Este chamado ao arrependimento é reforçado pela expressão “dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões”
(At.26:14), ou seja, é duro resistir a obedecer a Deus, chegar ao ponto da
ferida, retirar o “aguilhão”, ou seja, a ponta de ferro da aguilhada, o orgulho
próprio, a vaidade pessoal, o que sempre ocasionará dor (na NVI, a expressão é
“resistir ao aguilhão só lhe trará dor”), mas que é absolutamente indispensável
para que sigamos a Cristo. Sem renúncia de nós mesmos, sem tomarmos a nossa
cruz, é impossível seguir o Senhor Jesus (Mc 8:34; Lc 9:23), é impossível
conhecer a sua vontade. Paulo passou a buscar a Deus assim que se converteu,
querendo saber qual a Sua vontade para a sua vida.
Para sabermos a vontade de Deus para nossa vida é necessário que cultivemos uma
vida de íntima comunhão com Ele. À medida que conhecemos o Senhor sua vontade
vai se tornando mais evidente para nós. Romanos 12:2 nos diz: “E não sede conformados com este mundo, mas sede
transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual
seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.”
2. Tornar-se ministro e testemunha de Jesus – “... porque te apareci por isto, para te por
ministro e testemunha tanto das coisas que tens visto como daquelas pelas quais
te aparecerei ainda” (At 26:16). Saulo seria, acima de tudo,
apóstolo aos gentios, uma comissão que o colocaria diante de reis. Não
obstante, pregaria também aos seus compatriotas segundo a carne e seria nas
mãos deles que sofreria perseguição mais intensa.
“Pela formação do apóstolo Paulo, não é possível
vislumbrar que seu ministério fosse para os gentios, pois quando apresenta sua
biografia, de forma breve, mostra que sua formação intelectual e social estava
voltada para atender aos interesses do Judaísmo. Mas Deus tinha outros planos
para ele. Seu desafio seria falar com aqueles que estavam fora dos círculos
judaicos, e essa era uma tarefa e tanto. Se os judeus, com o conhecimento da
Lei de Moisés (que trazia as profecias sobre Jesus e a sua vinda), nem sempre
aceitaram a mensagem do Evangelho, quem dirá os gentios, que nem sequer tinham,
em muitos casos, o conhecimento da Lei nem a fé no Deus de Israel. Mas esse
desafio foi vencido de tal forma que o Evangelho chegou até nós”
(Ensinador Cristão nº 45).
3. Sofrer a favor de Cristo e do evangelho - “Disse-lhe,
porém, o Senhor: Vai, porque este é para mim um vaso escolhido para levar o meu
nome diante dos gentios, e dos reis, e dos filhos de Israel. “Pois eu lhe mostrarei quanto lhe cumpre padecer pelo meu
nome” (Atos 9:15,16). A conversão
de Paulo incluiu não somente uma ordem para pregar o evangelho, mas também uma
chamada para sofrer por amor a Cristo. Paulo foi informado desde o início que
ele sofreria muito pela causa de Cristo. No reino de Cristo, sofrer por amor a
Ele é um sinal do mais alto favor de Deus (Mt 5:11,12; Rm 8:17; 2Tm 2:3) e o
meio de ter um ministério frutífero (2Co 1:3-6); resulta em recompensas
abundantes no céu (Mt 5:12; 2Tm 2:12). Para outros textos sobre os sofrimentos
de Paulo, ver 2Co 4:8-18; 6:3-10; 11:23-27; Gl 6:17; 2Tm 1:11,12.
CONCLUSÃO
A conversão é obra do Espírito Santo na vida do homem. É o Espírito Santo que convence o pecador do pecado, da justiça e do juízo (João 16:8), não sendo uma tarefa que se faça por força ou violência (Zc 4:6). O violento e zeloso Paulo, que, por meio de ameaças e mortes, procurava levar os cristãos judeus de volta ao judaísmo, descobriu que a transformação do homem se dá pelo Espírito Santo. Paulo é um exemplo impressionante da graça de Deus que causou efeitos tão grandiosos, agarrando um rebelde obstinado como ele e transformando-o completamente de “lobo em cordeiro”.
“Existem muitos Saulos de Tarso no mundo. Como ele, são intelectualmente bem-dotados
e têm caráter; homens e mulheres de personalidade, energia, iniciativa e
impulso; tendo a coragem de suas convicções seculares; profundamente sinceros,
mas sinceramente enganados; viajando de Jerusalém para Damasco, e não de
Damasco para Jerusalém; duros, teimosos, até mesmo fanáticos, em sua rejeição
de Jesus Cristo. Mas eles não estão fora do alcance de Sua graça soberana.
Precisamos ter mais fé, mais expectativa santa, que nos levarão a orar por eles
(como, com certeza, os cristãos primitivos oraram por Saulo) para que Cristo
primeiro pique com seus aguilhões para depois agarrá-los
definitivamente”
(JohnStott).
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