Vendo seu meio de vida ser tirado por aqueles judeus, os donos da escrava
ficaram furiosos. Enraivecidos, agarraram Paulo e Silas e os arrastaram pelas
ruas, gritando aos que passavam. Uma grande multidão os acompanhou, pensando
tratar-se de algum ladrão. Paulo e Silas foram levados à praça do mercado, sob
a acusação de haverem perturbado a paz. Foi fácil colocar o povo contra eles,
uma vez que os judeus eram muito odiados.
O imperador Cláudio não mandara banir todos os judeus de Roma?
Numa extremidade da praça, dois magistrados romanos estavam sentados numa
plataforma elevada, sob um dossel que os abrigava do sol. A tarefa deles era
ouvir e julgar as queixas do povo. Esse foi o primeiro tribunal de justiça. Arrastando os apóstolos pelas vestes e pelos cabelos, os
perseguidores levaram-nos aos magistrados.
"Esses homens, sendo judeus, perturbaram a
nossa cidade." Acusaram-nos aos berros.
"E nos expõem costumes que nós não é lícito receber nem praticar, visto
que somos romanos" (At 16.20-21). A multidão gritava: "Fora com eles! Fora com os judeus!"
Os magistrados deixaram-se convencer. Não permitiram aos prisioneiros
qualquer julgamento ou defesa. Se soubessem que Paulo era cidadão romano, sem
dúvida o tratariam com respeito, mas nada lhe perguntaram. Os juízes deram ordens para que fossem publicamente
açoitados. Depois de descobrirem as costas dos presos, os pretores
avançaram e levantaram as varas. Enquanto os apóstolos encolhiam-se de dor sob
os açoites, a plebe gritava: "Prendam os
judeus!"
Machucados e sangrando, Paulo e Silas foram levados à prisão e entregues ao
carcereiro, com instruções para guardá-los com toda a segurança. Os dois foram
então levados para um cárcere interior, onde ficaram com os pés presos ao
tronco. Ao deixá-los naquele lugar úmido e frio, o carcereiro ficou imaginando
o porquê daqueles homens que não pareciam marginais serem julgados tão
perigosos.
Na casa de Lídia, Timóteo e Lucas passaram uma noite angustiosa, e oraram em
companhia da dona da casa e de outros cristãos. Mas não foram os únicos a orar:
Paulo e Silas também não conseguiam dormir. Suas costas continuavam doendo por
causa dos açoites e o tronco tornava o sono impossível. Entretanto, podiam
orar, e foi o que fizeram. A paz caiu sobre eles, e começaram a cantar
alguns dos salmos que conheciam desde a infância - salmos de louvor a DEUS.
"O Senhor é a minha luz e a minha salvação; a
quem temerei? O Senhor é a força da minha vida; de quem me recearei?" (SI
27.1).
A Conversão do Carcereiro
Aqueles sons no meio da noite eram sem dúvida estranhos. Os outros prisioneiros
estavam acostumados com gemidos e maldições, mas jamais tinham ouvido algo
assim. O que poderia ser? Estavam escutando os cânticos em silêncio quando, de
repente, um som baixo e ameaçador fez-se ouvir. Aquilo que a princípio parecia
um trovão à distância foi aumentando cada vez mais. O chão começou a tremer. Um
terremoto! O chão balançava, subindo e descendo; as portas foram arrancadas dos
batentes e as cadeias dos prisioneiros abriram-se, libertando-os.
O carcereiro acordou com o choque. Saltando da cama, seu primeiro pensamento
foi para os prisioneiros sob seus cuidados. Teria algum escapado? Em caso
afirmativo, como se explicaria com Roma? Ao primeiro olhar, viu que as portas
estavam escancaradas. Lá estava a pesada porta de madeira, arrancada dos
gonzos. Com uma tocha na mão, apressou-se pelo corredor.
As celas interiores estavam danificadas; suas portas, completamente abertas. O
homem puxou rapidamente a espada. Era melhor acabar logo com tudo, escapando ao
horror de um julgamento e da execução pública. Paulo viu quando ele pôs a
espada na garganta para suicidar- se. Uma voz alta e clara, saída da escuridão,
assustou o carcereiro: "Não te faças nenhum
mal, que todos aqui estamos" (At 16.28).
Trêmulo, ele pegou a tocha e entrou na cela, onde caiu prostrado aos pés de
Paulo e Silas. O homem sentia-se tremendamente perplexo. Não conseguia entender
por que não haviam escapado. Paulo explicou-lhe que eram cidadãos romanos e não
tinham necessidade de fugir; além disso, eram servos do Senhor DEUS e levavam a
mensagem de salvação aos gentios.
Encontrado o caminho que procurara durante toda a vida, o carcereiro exclamou: "Senhores, que é necessário que eu faça para me
salvar?" (16.30).
Sem hesitar, Paulo respondeu: "Crê no Senhor
JESUS CRISTO e serás salvo, tu e a tua casa" (16.31).
No pátio da prisão, com a poeira do terremoto ainda pesando no ar e o
ruído da confusão nas ruas escuras lá fora, Paulo pregou as boas-novas de
grande alegria, e explicou o significado de crer. Imediatamente, o brutal
carcereiro passou das trevas para a luz.
Solícito, levou os apóstolos para sua casa, onde se achavam sua esposa e
filhos. Ali, lavou-lhes as costas doloridas. Depois de limpar o sangue,
esfregou unguento nas feridas abertas pelas varas dos pretores. Naquela noite
Paulo contou-lhes tudo sobre JESUS e, antes do dia amanhecer, uma família
inteira tornou-se cristã e foi batizada.
Quando raiou o dia, mensageiros dos magistrados bateram à porta da prisão.
Traziam uma mensagem amedrontada dos seus senhores: "Soltai aqueles
homens" (v. 35).
Na mente dos magistrados estava claro que a catástrofe fora um castigo de DEUS
por terem colocado dois de seus servos na prisão. Entretanto, quando o
carcereiro levou a Paulo e Silas a notícia da sua liberdade, estes não a
receberam de bom grado.
Diga a seus senhores - declarou Paulo - que somos
romanos e eles não podem encobrir sua injustiça, livrando-se de nós às ocultas.
Paulo conhecia os direitos da cidadania romana;
podia apelar à própria Roma, se quisesse. Sabia que os magistrados estavam
agora à sua mercê.
Diga aos seus senhores que venham pessoalmente e nos ponham em liberdade.
Os orgulhosos magistrados, com medo de perderem o cargo, viram que não havia
outra opção senão atender ao desejo dos prisioneiros. Sem perda de tempo,
apresentaram suas humildes desculpas em pessoa, suplicando aos apóstolos que
nada dissessem sobre o erro cometido, e deixassem a cidade o mais rápido
possível. Eles levaram Paulo e Silas para a rua e, publicamente, os libertaram.
Os apóstolos não deixaram imediatamente a cidade. Procuraram a paz e tranquilidade
da casa de Lídia, até que suas feridas sarassem e pudessem viajar. Receberam os
cuidados de Timóteo e do doutor Lucas, e foram visitados pelos poucos que
haviam levado a CRISTO.
A Primeira Igreja na Europa
Durante aqueles dias de restabelecimento, Paulo e
Silas tiveram a alegria de acolher na nova igreja de Filipos ao homem que lhes
prendera os pés ao tronco, assim como todos os de sua casa. Mediante
sofrimento e fidelidade, o pequeno grupo cresceu até tornar-se uma das mais
fortes igrejas.
Quando Paulo e Silas sentiram-se suficientemente curados para deixar Filipos,
despediram-se dos crentes e partiram para Tessalônica, a capital da Macedônia.
Lucas e Timóteo ficaram em Filipos por algum tempo, a fim de fortalecer a
igreja.
A estrada que os dois apóstolos escolheram era a melhor da província,
pavimentada com blocos de mármore. Depois de cerca de 169 quilômetros, chegaram
a Anfípolis, uma cidade maior que Filipos. Ansiosos, não ficaram ali;
prosseguiram para o sul e para o oeste, passando por Apolônia e descendo a
grande Via Inácia, até a cidade que Alexandre, o Grande, chamara de
Tessalônica, em homenagem à sua irmã.
Conhecendo
o contexto histórico da prisão de Paulo e Silas
O apóstolo
Paulo estava em sua segunda viagem missionária. Na primeira viagem seu
principal companheiro havia sido Barnabé, porém devido a algumas
discordâncias com relação ao comportamento de João Marcos, primo de Barnabé,
ambos se dividiram.
Paulo,
então, escolheu Silas para acompanhá-lo nesse novo empreendimento
missionário. Paulo e Silas passaram por muitas cidades, porém foi na
estadia deles em Filipos que ocorreu tal prisão.
Paulo
e Silas não estavam sozinhos, estavam também com eles Timóteo e
Lucas. Essa equipe de missionários partiu para a cidade de Filipos, uma
importante colônia romana. Essa Filipos é a mesma que em aproximadamente 42
a.C. foi palco da famosa batalha em que Marco Antônio e Otaviano derrotaram
Brutus e Cássius, os assassinos de Júlio César.
No
primeiro século Filipos era uma cidade de destaque na região da Macedônia, pois
possuía uma economia próspera, principalmente devido à mineração de ouro, e
também era referência na educação, com uma conhecida escola de medicina.
Paulo
e Silas em Filipos
A
equipe de missionários liderada por Paulo ficou em Filipos durante vários dias. Lucas relata que no primeiro sábado
em que estavam ali, eles foram para o Rio Gangites, e encontraram várias
mulheres que se reuniram no local para a oração sabatina.
O
apóstolo, acompanhado de sua equipe, começou a pregar o Evangelho àquelas
mulheres. Entre essas mulheres estava Lídia, uma mulher que o Senhor lhe
abriu o coração para que ela se convertesse ao Evangelho de Jesus.
Lídia
e os membros de sua casa foram batizados no Rio Gangites, e após o batismo ela
ofereceu hospedagem à equipe missionária. Com os missionários
hospedados na casa dessa mulher, o Evangelho continuou sendo pregado na cidade
e a Igreja começou a ser ampliada.
O
exorcismo de uma jovem antes da prisão
No
versículo 16 do mesmo capítulo 16 de Atos, somos informados sobre uma
jovem escrava que tinha um espírito de adivinhações. Sua prática de
adivinhação trazia muitos lucros aos seus donos.
Em grego, Lucas escreve que ela tinha um espírito chamado
“Píton”, que em nossas
traduções aparece apenas como “adivinhação”. Na
mitologia grega Píton era uma lendária serpente que guardava o Oráculo Délfio,
e que acabou morta por Apolo. Assim, tal termo era utilizado para se referir ao
espírito de adivinhação característico dos médiuns da época.
Com
tudo isso, Lucas está enfatizando que a jovem era usada por demônios. Por
muitos dias a jovem clamou que aqueles homens eram “servos do Deus Altíssimo”, e que estavam
proclamando o caminho da salvação.
Não
devemos entender essa declaração como um reconhecimento genuíno do evangelismo que
estava ocorrendo ali. Lembre-se que ela estava
sendo usada por demônios, e tal declaração era uma artimanha de Satanás. Paulo
entendeu dessa forma, e, em nome do Senhor Jesus, expulsou o espírito que
atormentava aquela mulher (At 16:18).
Paulo
e Silas são presos
Os
donos daquela escrava, quando perceberam que tinham perdido uma fonte de lucro,
ficaram revoltados e violentamente prenderam Paulo e Silas. O texto diz que
eles foram agarrados e arrastados até as autoridades (At 16:19).
Note
que apenas Paulo e Silas foram presos. Isso ocorreu porque as denúncias que
aqueles acusadores fizeram foram fundamentadas na nacionalidade dos missionários.
Perceba que antes de qualquer acusação eles deixam claro que “estes homens são judeus”.
Com
isto, possivelmente eles estavam querendo estabelecer, de alguma forma, uma
ligação entre Paulo e Silas e os judeus que tinham sido expulsos de Roma pelo
imperador Cláudio, acusados de criar perturbação religiosa em aproximadamente
49 d.C. (At 18:2).
Perceba
que no versículo 20 Paulo e Silas são acusados justamente de criar
confusão e perturbação na cidade. Como Lucas era gentio, e Timóteo
apenas um meio-judeu, então as acusações caberiam perfeitamente apenas contra
Paulo e Silas.
Também
é importante perceber que em nenhum momento a jovem foi mencionada na acusação.
Toda denúncia partiu do confronto entre os interesses romanos e os interesses
judeus.
Na
época a religião judaica era permitida dentro do império, porém os judeus não
poderiam tentar converter os cidadãos romanos, e naquele momento ainda não
havia ficado clara para os romanos a distinção entre Cristianismo e Judaísmo.
Com
todo o tumulto que se aglomerou na praça da cidade, os magistrados ignoraram
qualquer procedimento legal e deram ordem para que Paulo e Silas fossem
despidos e açoitados. Por serem cidadãos romanos, Paulo e Silas não
poderiam, de forma alguma, ter passado por essa seção de tortura.
Paulo
e Silas no cárcere
Paulo
e Silas foram lançados na prisão. Ao
carcereiro foi ordenado que ele guardasse os dois prisioneiros com segurança,
ou seja, com total rigidez. O carcereiro então colocou Paulo e Silas no “cárcere interno e prendeu seus pés no tronco” (At 16:24).
As
cadeias da época eram divididas em duas partes: o cárcere externo e o cárcere
interno. Na parte externa os presos desfrutavam de mais liberdade, podendo
andar e receber visitas. Já na parte interna o aprisionamento era bem mais
rígido, e geralmente reservado aos prisioneiros mais perigosos. A prova disto é
que o carcereiro colocou as pernas de Paulo e Silas no tronco, para
que se tornasse impossível qualquer possibilidade de fuga.
Aqui
também devemos considerar que após uma seção de açoites os presos ficavam
completamente debilitados, o que provavelmente era, na ocasião, a condição
física de Paulo e Silas.
O
próprio uso do tronco nas pernas também era um tipo de tortura, pois o preso
perdia praticamente toda mobilidade, além de que em muitas vezes os buracos de
cada perna eram bem afastados, causando grande incomodo.
Paulo
e Silas oram e adoram na prisão
Com
seus corpos totalmente doloridos, e submetidos a condições sub-humanas, Paulo
e Silas resolveram orar a Deus e cantar louvores a Ele. Naquele
momento eles estavam com dor, fome e sede, mas seus corações estavam voltados a
Deus.
O
texto nos informa que os outros presos também ouvem as orações e os
cânticos de Paulo e Silas. Com toda certeza esse foi um testemunho
genuíno de dois seguidores de Cristo. Se seu Mestre sofreu calado no Calvário,
naturalmente seus discípulos entendiam que não tinham qualquer direito de
reclamar.
Um
terremoto acontece
A
Bíblia diz que de repente houve um violento terremoto, de maneira que os
alicerces da prisão foram sacudidos. Com
isso, todas as portas foram abertas e todas as correntes dos prisioneiros se
soltaram.
É
verdade que na Macedônia havia incidência de terremotos, porém claramente esse
terremoto específico foi providência de Deus, ou seja, Deus usa até mesmo de
meios naturais para prover milagres inexplicáveis. Aquele terremoto
tinha um papel decisivo nos propósitos de Deus.
Apesar
de todos os prisioneiros estarem livres, nenhum deles escapou. É possível que
todos ficaram perplexos ao redor de Paulo e Silas admirando o
poder do Deus sobre o qual os missionários cantavam.
Quando
o carcereiro acordou e viu que todas as portas da prisão estavam abertas, ele
planejou se matar. Na verdade, ele sabia que se um único prisioneiro escapasse
sua própria vida seria dada em troca pela vida do fugitivo, sendo assim morto
(At 12:19; 27:42). Entretanto, antes que ele se suicidasse, Paulo o avisa que
ninguém havia fugido (At 16:28).
O
propósito da prisão de Paulo e Silas e do terremoto no cárcere
Aqui
precisamos fazer algumas considerações, pois é justamente nesse ponto onde
várias interpretações erradas são tomadas.
Algumas
pessoas utilizam essa passagem para tentar ensinar que a oração da madrugada é
mais poderosa, tão poderosa que até mesmo um terremoto ocorreu quando Paulo e
Silas oraram à meia-noite.
No
entanto esse ensino é completamente estranho, não só a esse texto, mas a toda
Escritura. O terremoto aqui não serviu para mostrar a eficácia da oração feita
num determinado horário da noite. Saiba mais sobre
o que a Bíblia diz acerca da oração da madrugada.
Outras
pessoas também usam esse relato sobre Paulo e Silas na prisão para
pregar um tipo de “determinismo”, onde Deus faz qualquer coisa para resolver o
seu problema. Logo, é comum ver cristãos reivindicando um tipo de terremoto
figurado para que seus problemas sejam resolvidos.
Em
primeiro lugar, não há qualquer evidência no texto de que Paulo e Silas
tenham orado para que fossem libertos da prisão, muito menos que tenham
solicitado o terremoto que ocorreu. O texto claramente parece indicar que os
dois missionários estavam simplesmente rendendo graças ao Senhor.
É
claro que Deus tem um zelo especial pelos seus escolhidos. Através da profecia
do profeta Isaías, somos informados que ainda que uma mãe se esqueça do próprio
filho, Deus jamais se esquece do seu povo (Is 49:15,16). No entanto, isso não
significa ausência de problemas e dificuldades.
Devemos
nos lembrar de que o próprio Paulo foi preso outras vezes, sendo que de sua
última prisão em Roma ele não conseguiu sair vivo. Também em nenhuma dessas
outras vezes o terremoto se repetiu.
O
que houve ali foi a perfeita execução de um plano do Senhor. O
terremoto foi um instrumento usado por Deus para que seus propósitos soberanos
fossem cumpridos.
Obviamente
a libertação de Paulo e Silas estava implícita no plano, mas não era o ponto
principal e exclusivo dele. Se Deus quisesse apenas libertá-los, ele poderia
tê-lo feito como fez com o apóstolo Pedro, enviando um anjo e o libertando
silenciosamente (At 12:7), aliás, isso já havia ocorrido outra vez (At 5:19).
O
terremoto não apenas quebrou as correntes que prendiam Paulo e Silas e abalou
os alicerces do cárcere, foi muito mais além do que isto, o terremoto
quebrou as correntes da incredulidade e abalou os alicerces do coração do
carcereiro e também de toda sua família.
Aquele
terremoto revelou o poder e a majestade do Senhor, bem como a soberania de seus
propósitos eternos. O
grande objetivo do terremoto pode ser notado nas palavras do carcereiro: “Senhores, o que devo fazer para ser salvo?” (At
16:30).
Os
missionários lhe responderam: “Creia no
Senhor Jesus” (At 16:31). A salvação havia alcançado não só o
carcereiro, mas toda sua casa (incluindo seus servos). Paulo e Silas
ensinaram àquela família a Palavra do Senhor, e imediatamente todos foram
batizados.
Naquele
momento o carcereiro já não era mais o mesmo, ele havia nascido de novo. Sua
atitude já demonstra o caráter de alguém regenerado. Se poucas horas antes ele
havia lançado no cárcere dois homens debilitados, sem ao menos se importar com
as necessidades deles, agora ele estava cuidando das feridas dos missionários
(At 16:32). Somente o Espírito Santo pode promover uma transformação
tão radical.
O
carcereiro também conduziu os missionários até sua casa, e ali os alimentou.
Para ele, Paulo e Silas não eram mais prisioneiros, mas agora eram irmãos em
Cristo.
O
texto bíblico nos informa sobre a grande alegria do carcereiro por não só
ele, mas toda sua família, agora crerem em Deus. A expressão grega desse texto
revela uma confiança permanente, ou seja, a fé daqueles irmãos não era nominal,
mas verdadeira.
Depois, Paulo
e Silas voltaram voluntariamente para a prisão. Eles não tentaram se
aproveitar da situação para fugir. No outro dia, pela manhã, as autoridades
ordenaram que os dois fossem soltos.
É
possível que a notícia do que ocorreu na prisão tenha percorrido a cidade, e
aqueles homens tenham relacionado a presença dos dois missionários com o
terremoto que havia abalado aquele lugar, e isso pode ter deixado
os magistrados estarrecidos. Seja como for, eles queriam que Paulo e Silas
fossem embora.
Entretanto,
Paulo se recusou a ir, e também expôs a injustiça que tinha sido cometida com
dois cidadãos romanos, e exigiu uma retratação pública. A revelação de
que Paulo e Silas tinham cidadania romana perturbou os magistrados, que
foram até a prisão e pediram desculpas aos missionários, implorando também que
eles deixassem a cidade.
Após
saírem a prisão, Paulo e Silas foram para a casa de Lídia,
onde se reuniram com os irmãos e, depois de encorajá-los, partiram de Filipos.
Esse
episódio também tem algumas similaridades com o naufrágio que Paulo sofreu
quando estava sendo transportado como prisioneiro para Roma. O propósito do
naufrágio não era para libertá-lo, mas para fazer com que o poder de Deus fosse
revelado na Ilha de Malta (At 28).
Da
mesma forma ocorreu no episódio da prisão de Paulo e Silas em Filipos, com o
consequente terremoto que atingiu aquele lugar. Tudo serviu para contribuir com a
pregação do Evangelho ali. O propósito de Deus com aqueles acontecimentos era
estabelecer e fortalecer sua Igreja naquela cidade.
Depois,
quando olhamos para a igreja de Filipos na epístola escrita pelo próprio Paulo
àqueles irmãos, podemos entender o quão importante foi aquela comunidade cristã
para o ministério do apóstolo. Na verdade, havia uma profunda comunhão entre os
crentes filipenses e o apóstolo, os quais por várias vezes socorreram Paulo em
suas necessidades (Fp 4:14-18).
Quando
Paulo escreveu sua Carta aos Filipenses, ele se referiu também aos bispos e
diáconos (Fp 1:1). Isso significa que a Igreja ali havia prosperado, o
Evangelho estava sendo pregado, e o reino de Deus avançando.
Todavia,
tudo isto tinha começado com a conversão de uma mulher chamada Lídia, com a
expulsão de um espírito de adivinhação de uma jovem escrava, com uma prisão
violenta, com um terremoto milagroso, e com a conversão do carcereiro e sua
família.
Essa
é a história da fundação da igreja de Filipos. Nessa história podemos ver como
nosso Deus é Soberano e seus planos infalíveis. Ele poupou a vida de
Paulo e Silas na ocasião do tumulto, tortura e prisão, porém não os poupou do
sofrimento. Apesar disso, os dois missionários entendiam que Deus
estava no controle de tudo, e ao invés de questionarem o Senhor, eles O
adoraram.
Ao
contrário do que algumas pessoas pensam, essa passagem não nos ensina a
reivindicar um terremoto divino para que nossos problemas sejam solucionados,
mas nos ensina a adorar ao Senhor em meios às adversidades.
CONCLUSÃO:
O
episódio da prisão de Paulo e Silas nos fornece uma grande lição sobre qual
deve ser o nosso comportamento diante do sofrimento. Como escreveu o apóstolo Pedro,
quando suportamos o sofrimento por estarmos fazendo a vontade do Deus, Ele nos
aprova (1Pe 2:20; 3:14; 4:13-16).
Paulo
e Silas sabiam que os seguidores de Cristo são submetidos constantemente ao
sofrimento, e é por isso que são eles que encorajam os crentes na casa de Lídia
após terem saído da prisão, e não o oposto.
A
lição aqui é muito clara: em Cristo somos mais que vencedores, mesmo em
meio ao sofrimento. O cristão verdadeiro diante da tristeza está
sempre alegre, mesmo na pobreza está enriquecendo a muitos, mesmo nada tendo
possui tudo. Ele capaz de enfrentar qualquer coisa, pois seus olhos
estão fixos em Jesus (2Co 6:4-10).
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