MELQUISEDEQUE,
O REI DE SALÉM
TEXTO
BÍBLICO: Gênesis 14.18-20; Hebreus 7.1-7,17
"Porque dele assim se testifica: Tu és sacerdote
eternamente, segundo a ordem de Melquisedeque" (Hb.7:17).
INTRODUÇÃO
Trataremos
a respeito do caráter do enigmático personagem bíblico Melquisedeque. Não
sabemos muito a respeito da sua história, mas os relatos bíblicos que temos são
suficientes para extrair importantes lições a respeito do seu perfil justo e
santo. Se nome significa “rei de justiça”. Foi um verdadeiro adorador, servo do
Deus altíssimo, no meio de um povo idólatra e corrompido, os cananeus. Exerceu
o papel de rei e sacerdote, sem fazer parte da linhagem de Israel (Gn.14:18).
Sua ordem sacerdotal, com aspectos peculiares, tornou-se um tipo do sacerdócio
de Cristo, que em tudo é superior a todas as ordens sacerdotais. Abraão recebeu
a bênção dele quando voltava de um conflito para libertar o seu sobrinho Ló, e
a aceitação da bênção por parte de Abraão demonstra que o patriarca reconheceu
a autoridade sacerdotal de Melquisedeque (Gn.14:19,20). Que possamos
melhorar a nossa vida cristã com o exemplo do caráter santo e justo desse homem
de Deus, Melquisedeque.
I.
QUEM ERA MELQUISEDEQUE
1. Um personagem misterioso. Melquisedeque é, no texto sagrado, alguém
que não tinha genealogia, ou seja, não tinha estabelecido a sua etnia, a sua
origem, sendo apresentado tão somente como rei de Salém. O autor aos Hebreus
diz que ele era "sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de
dias nem fim de vida..." (Hb.7:3). Isto não quer dizer que não fosse uma
pessoa que tivesse uma origem, uma família. Não merecem guarida as
interpretações que fazem de Melquisedeque um anjo, ou, mesmo, o próprio Jesus
numa “aparição teofônica”, porquanto o sacerdote era, antes de tudo, um ser
humano e a apresentação de Jesus como “sacerdote segundo a ordem de
Melquisedeque” enfatiza esta humanidade.
2. Onde ele aparece na Bíblia.
Melquisedeque aparece na história bíblica
quando Abrão retornou de uma guerra, a primeira registada na Bíblia, na qual
salvara seu sobrinho Ló e sua família, que haviam sido levados cativos, quando
os reis de Sodoma e Gomorra, onde o patriarca habitava, foram derrotados por
uma confederação de quatro reis, liderados por Quedorlaomer, rei de Elão
(Gn.14:1-13). Depois da vitória espetacular, Abraão, já nas imediações de
Salém, foi recepcionado por Melquisedeque, o sacerdote do Deus Altíssimo
(Gn.4:18); Melquisedeque celebra a Abraão como guerreiro de Deus e o abençoa.
Abraão reconhece Melquisedeque como o legítimo sacerdote e rei de seu Deus.
3. Características de Melquisedeque. A apresentação de Melquisedeque não só
enfatiza que ele era um rei, mas também um sacerdote. Desta forma, ele é um
tipo de Cristo, o nosso Profeta, Sacerdote e Rei.
a) Ele era rei da Paz (Gn.4:18). Melquisedeque é apresentado como rei
de Salém, ou seja, rei de paz, pois este é o significado do nome da cidade por
ele governada. Jesus, enquanto rei, também é assim apresentado: Ele é
profetizado como o Príncipe da Paz (Is.9:6); ao nascer é apresentado como
Aquele que traz paz aos homens (Lc.2:14); antes de ser separado dos Seus
discípulos para sofrer e morrer por nós, deixa a eles a paz (João 14:27);
quando se reencontra com os seus discípulos, concede-lhes esta mesma paz (João
20:19). Como disse o apóstolo Paulo, Ele é a nossa paz (Ef.2:14).
b) Ele "era sacerdote do Deus Altíssimo"
(Gn.14.18b). Melquisedeque é a primeira pessoa que foi
chamada de “sacerdote” nas Escrituras Sagradas, sendo um gentio, denominado de
“sacerdote do Deus Altíssimo”. A Bíblia não nos diz como e porque
Melquisedeque, que também era rei de Salém, era sacerdote do Deus Altíssimo,
Deus este que era o mesmo Deus de Abrão, pois assim foi identificado pelo
próprio sacerdote, quando o abençoou. Melquisedeque, portanto, era um sacerdote
que servia a Deus, entre as nações, apesar da idolatria reinante, da rejeição a
Deus por parte dos gentios.
c) Ele abençoou Abrão. Melquisedeque celebra a Abraão como guerreiro de Deus e
o abençoa. Diz o texto sagrado: “Porque este Melquisedeque, que era rei de
Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, e que saiu ao encontro de Abraão quando ele
regressava da matança dos reis, e o abençoou” (Hb.7:1); "E abençoou-o e
disse: Bendito seja Abrão do Deus Altíssimo, o Possuidor dos céus e da terra; e
bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos
[...]" (Gn.14:19,20a). Abrão aceitou ser abençoado por Melquisedeque, inclusive
reconhecendo a sua supremacia (Gn.14:20).
d) Abrão deu o dízimo a Melquisedeque. Abraão reverencia Melquisedeque, o
sacerdote do Deus Altíssimo, com o dízimo do despojo (cf. Hb.7:4). A prática de
se pagar o dízimo ao rei ou a um deus era comum no antigo Oriente Próximo
(Gn.28:22; Lv.27:30-33; Nm.18:21-32). O presente de Abraão a Melquisedeque não
era, provavelmente, o pagamento do “dízimo do rei” (cf 1Sm.8:15,17), porém, uma
oferta que refletia o respeito de Abraão para com Melquisedeque como sacerdote
do Deus verdadeiro. O tributo de Quedorlaomer (o rei-líder
invasor) é pago como um dízimo ao Senhor.
Observe
que Abrão dá o dízimo de tudo, porém recusa a oferta do rei de Sodoma, nada
tomando dos sodomitas como despojo pela sua vitória militar (Gn.14:21-24). Com
esta atitude, Abrão mostra que quem vive pela fé é desprendido das coisas
materiais, dá prioridade às coisas espirituais e põe o material a serviço do
espiritual. Também nos mostra que somente seremos justos se vivermos pela fé e
que a fé exige que tenhamos comunhão com Deus, por meio do Sacerdote segundo a
ordem de Melquisedeque, e que tal comunhão nos abençoa e nos permite manter
separados do mundo e de tudo que ele possa vir a oferecer. Temos vivido assim?
II.
LIÇÕES DO CARÁTER DE MELQUISEDEQUE
1. Um caráter justo. Enquanto rei, Melquisedeque é apresentado como rei de
justiça, pois este é o significado de seu nome, como afirma Hb.7:2: “... e primeiramente é, por interpretação, rei de
justiça...”. Portanto, seu nome identifica-se com o seu
caráter; suas atitudes decorriam de seu caráter ilibado e santo; daí, a sua
grandeza moral e espiritual. Como bem diz o pr. Elinaldo Renovato, “no meio de uma sociedade idólatra e corrompida, com
costumes estranhos e até mesmo bárbaros, como sacrificar seus filhos a falsos
deuses, Melquisedeque destacou-se por ser um homem justo e praticamente da
justiça”.
2. Um caráter pacífico. Conforme o texto sagrado, além de ser "rei de
justiça", Melquisedeque também era "rei
de Salem, ou seja, rei de paz, pois este é o significado do nome da cidade por
ele governada. Salém é aparentemente um nome antigo para Jerusalém (Sl.76:2).
Melquisedeque
era rei, logo era uma autoridade, porém, não uma autoridade opressora, e sim
pacificadora. A autoridade de Melquisedeque não residia propriamente em sua
realeza; fundamentava-se no ofício que exercia. Todos sabiam que, ali, na
cidade da paz, achava-se um homem de Deus, um homem de caráter pacífico. Por
seu intermédio, os peregrinos consultavam o Eterno; até Abraão foi à sua
procura, pois sabia que, espiritualmente, havia alguém superior a si. Por
intermédio de Abraão, toda a nação hebreia reverenciou Melquisedeque, até mesmo
os sacerdotes da tribo de Levi, que sequer haviam nascido (cf.Hb.7:9).
Não
resta dúvida de que o sacerdócio de Melquisedeque era diferente do levítico.
Este sobressaía-se pelas oferendas cruentas; aquele tinha como essência o
sacrifício único e suficiente de Jesus que, na presciência divina, havia
vicariamente morto desde a fundação do mundo (Ap.13:8). Hoje, através de
Cristo, é-nos facultada a entrada ao trono da graça. E, agora, podemos adentrar
não a Salém terrena, mas a Jerusalém Celeste, cujo arquiteto e construtor é o
próprio Deus.
O
caráter pacífico de Melquisedeque nos inspira a sermos promotores da paz em
todos os ambientes que estivermos, inclusive no meio da comunidade cristã.
III.
SEGUNDO A ORDEM DE MELQUISEDEQUE
O
escritor aos Hebreus é o primeiro a mostrar que Melquisedeque é um tipo de
Cristo, pois, a exemplo de nosso Senhor, era rei e sacerdote. Ao longo da
história judaica, somente Jesus Cristo reuniu em Si essas duas figuras.
1. Um novo sacerdócio. A lei de Moisés nada dizia sobre homens da tribo de Judá
se tornarem sacerdotes; para aquela época isto era proibido, pois os homens não
devem ir além do que a Bíblia autoriza. Nem a Jesus era permitido ser sacerdote
segundo a ordem de Levi. Tendo em vista que o sacerdócio e a lei de Moisés
estavam intimamente ligados, se o sacerdócio fosse mudado, então a lei,
primeiramente, precisaria ser mudada (Hb.7:12,18,19). O sacerdócio de Jesus é,
então, uma garantia de que uma lei (ou aliança) melhor foi estabelecida
(Hb.7:20-22), e mediante esta Nova Aliança a Bíblia nos afirma que o véu do
templo se rasgou e nós escapamos.
Na
condição humana, os sacerdotes araônicos ou levíticos eram fracos. O próprio
Arão permitiu que os homens levantassem um bezerro de ouro no deserto para
poderem adorá-lo, e ainda incitou o povo dizendo que aquele bezerro era o deus
que os havia tirado da terra do Egito, demonstrando, assim, fraquezas (cf.
Êxodo 32). Por isso, foi necessário um novo sacerdócio por causa da fragilidade
do sacerdócio levítico, conforme diz o texto sagrado: “De sorte que, se a
perfeição fosse pelo sacerdócio levítico (porque sob ele o povo recebeu a lei),
que necessidade havia logo de que outro sacerdote se levantasse, segundo a
ordem de Melquisedeque, e não fosse chamado segundo a ordem de Arão?”
(Hb.7:11). Vê-se que houve necessidade de mudança do sacerdócio levítico por outro
que lhe era superior. Dessa forma, nós os cristãos, estamos debaixo do
sacerdócio de Cristo, no qual, todos somos considerados sacerdotes reais com
missão muito elevada (1Pd.2:9). Por isso, em nosso comportamento, devemos nos
conduzir de maneira que o nome do Senhor seja glorificado.
Hebreus
7 apresenta-nos o sacerdócio de Melquisedeque como sendo o sacerdócio que se
aplica aos cristãos hodiernos, pois tanto o sacerdócio quanto o templo são
representados pelos crentes. Os crentes são o templo - “Pois
nós somos santuário de Deus vivo” (2Co.6:16); os crentes são os
sacerdotes - “Mas vós sois a geração eleita, o
sacerdócio real” (1Pd.2:9). Aqui fica claro que a característica do
sacerdócio de Melquisedeque é a consolidação da autoridade sacerdotal e do
poder real. Jesus é rei e sumo-sacerdote, e nele também fazemos parte deste
sacerdócio e reinaremos com Ele - “Bem-aventurado
e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem
poder a segunda morte; mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com
ele durante os mil anos” (Ap.20:6).
Assim é possível entender com clareza a superioridade do novo sacerdócio e
acima de tudo o projeto de Deus, pois em Cristo (nosso Melquisedeque) somos
mais que vencedores.
2. Jesus Cristo, o sacerdócio superior e perfeito.
Jesus é um Sumo Sacerdote superior. Ele
foi feito sacerdote pelo poder de uma vida infindável, e não através de um
mandamento carnal (a Lei de Moisés). Jesus vive sempre para fazer intercessão
por nós; Ele nos conduz a Deus e reina sobre nós.
Como Sacerdote, Jesus intercede por nós; como Rei, governa sobre
nós.
Como
Sacerdote, ele foi o ofertante e também o sacrifício; como Rei, ele se fez
servo e se humilhou até a morte de cruz para nos salvar e nos fazer assentar
com ele nas regiões celestes, acima de todo principado e potestade.
Como
Sacerdote, Ele não oferece sacrifícios a Deus, mas sim ofereceu-se em
sacrifício, e mediante este sacrifício vicário é que podemos ser chamados de
filhos de Deus. Jesus é verdadeiramente o Sumo Sacerdote superior e perfeito.
3. A ordem de Melquisedeque. Em toda narrativa a respeito de
Melquisedeque, a que mais nos chama atenção é sem dúvida a narrativa do
escritor aos Hebreus, pois ele identificou Jesus como Sacerdote “de acordo com a ordem de Melquisedeque” (Hb.7:15,17).
É uma linhagem sacerdotal diferente da levítica. Jesus não pertencia à tribo de
Levi, ele pertencia à tribo de Judá (cf.Hb.7:14), por isso, não seria
consagrado sacerdote segundo à ordem levítico, pois infringiria a lei mosaica. Jesus é o Sumo Sacerdote segundo a ordem de
Melquisedeque, em vez da ordem levítica, denotando assim a superioridade do
sacerdócio de Jesus sobre o de Arão.
-
Como sacerdote, Melquisedeque trouxe pão e vinho seus para o ritual da
bênção; Jesus, como sacerdote, ofereceu-se a Si mesmo como oferta para
satisfação da justiça de Deus, corpo e sangue que são representados, em
comemoração, exatamente pelo pão e pelo vinho na anta Ceia até o dia da Sua
vinda (1Co.11:26).
-
Como sacerdote, Melquisedeque
intercedeu por Abrão perante Deus, abençoando-o e reconhecendo sua fidelidade
ao Senhor. Jesus, como sacerdote, intercede pelos transgressores (Is.53:12;
1João 2:1,2), obtém para nós a bênção e aguarda o momento em que nos levará
para que com Ele estejamos para sempre (João 14:1-3).
O
sacerdócio de Melquisedeque era
diferente do araônico quanto ao princípio da continuidade, pois após a morte do
sacerdote, este já não podia exercer o ofício, enquanto
Cristo o exercerá eternamente, por isto a analogia ou o paradigma entre Cristo
e Melquisedeque seja tão intrínseco.
MELQUISEDEQUE,
FATOS INTRIGANTES DO REI DE JUSTIÇA
A
pessoa de Melquisedeque tem sido objeto de muitas controvérsias por conta das
declarações alusivas a ele. Nesse estudo vamos buscar a mais correta
interpretação da passagem.
Quem
foi Melquisedeque na Bíblia?
Para
responder a essa pergunta, várias soluções têm sido propostas.
1-
Melquisedeque é um personagem fictício.
2.
Melquisedeque é o próprio Senhor Jesus pré-encarnado.
3.
Melquisedeque é apenas o que a Bíblia diz que
ele é: sacerdote do Deus Altíssimo.
1.
Melquisedeque é um personagem fictício
A
primeira hipótese é descartada pelo fato da Bíblia fazer referência a ele como
personagem real.
Pois,
vemo-lo recebendo os dízimos de Abraão.
Ora,
nesse caso, se Melquisedeque fosse um personagem
fictício, Abraão de igual modo também o seria.
Mas
todos sabem que, tal como Melquisedeque, Abraão é um personagem
real referido tanto no Antigo quanto no Novo Testamento.
Quanto
a Melquisedeque, além de Gn 14:18, há outras passagens na Bíblia
que confirmam a sua historicidade e a sua existência como um personagem real.
(SI 110:4; Hb 5,6 e 7).
2.
Melquisedeque é o próprio Senhor Jesus pré-encarnado
A
segunda posição deve ser rejeitada por falta de base bíblica e hermenêutica.
Pois
ao nos depararmos com um texto obscuro como esse de Hb 7:1-4, a primeira regra
fundamental (A Bíblia é sua própria intérprete) aconselha que:
- Devemos o
quanto possível, tomarmos as palavras no seu sentido usual e comum.
- Caso isso
ainda não seja suficiente, devemos recorrer aos paralelos de
passagem e de ensinos gerais das Escrituras.
Se
tomarmos essas duas regras como base, para nossa reflexão, veremos que esse
ensino acerca de Melquisedeque é insustentável à luz da
Bíblia.
Por
exemplo: No texto em foco é dito que ele não tem pai, nem mãe, nem
genealogia, nem princípio e fim de vida.
Ora,
o próprio Cristo, do ponto de vista humano, teve mãe, pai adotivo,
genealogia, início e fim de vida, ao passo que do ponto de vista da sua
divindade ele não tem nenhuma dessas coisas.
Pois
é eterno, incriado, autoexistente.
Essas,
por si só bastam para descartar toda e qualquer possibilidade de Melquisedeque ser
o Senhor Jesus Cristo.
SEM
GENEALOGIA?
Quando
a Bíblia afirma que ele não tinha mãe, nem pai, nem genealogia, nem início ou
fim de vida, não devemos tomar essas palavras no sentido literal, mas que a
Bíblia, por um motivo específico, não registrou.
Nada
diz a Bíblia da procedência do rei de Salém.
Ao
afirmar que ele era “sem pai, sem mãe, sem
genealogia”, não está dizendo que não tivesse pais, nem ascendência
alguma.
Mas,
o silêncio a respeito de Melquisedeque é necessário para afirmar o caráter perpétuo do seu sacerdócio.
Ele
tinha genealogia humana como qualquer homem, porém, sendo tipo de Cristo, a
Escritura a mantém oculta.
O
silêncio sobre o tempo dele complementa também ao silêncio genealógico: “Que não tem princípio de dias, nem fim de vida”.
De
igual modo não se deve tomar essa expressão no sentido literal.
Mas,
como um dado que a Escritura não revela.
Parece
que este é o significado da frase “cuja genealogia
não se inclui entre eles” (V6).
Se
as frases forem interpretadas no sentido de
“eternidade” ou “existência eterna”, haverá necessidade de
reconhecer Melquisedeque como um personagem sobre-humano, e
este não é o desígnio de Gênesis 14.
Portanto, a semelhança que existe entre ele e o Filho de Deus é
que ambos são sacerdotes, reis de paz e justiça, com um sacerdócio permanente.
Não
se pode atribuir a existência eterna a Melquisedeque no
sentido absoluto.
MELQUISEDEQUE
E CRISTO
A
expressão “feito semelhante ao Filho de Deus tem
dado margem para alguns pensarem que Melquisedeque era uma
manifestação de Cristo.
Mas
essa expressão “não permite considerá-lo como uma
teofania, isto é, a manifestação personificada da segunda pessoa divina.
A
semelhança na Escritura entre ele e Cristo, tem a ver com a expressão “sem princípio de dias, nem fim de vida”.
O
escritor está enfatizando a natureza do Filho de Deus, que sendo divina é,
portanto, sem origem.
Jesus
Cristo é sem princípio de dias, no plano de sua pessoa divina, portanto
antecede a Abraão (Jo 8:58) e anterior também a Melquisedeque,
contemporâneo de Abraão.
Este é o objetivo principal do escritor ao se referir à
semelhança entre ele e Jesus”.
Com
base nessas explicações concluímos que tudo que se diz acerca de Melquisedeque tem
como objetivo mostrar o seu caráter tipológico em relação a Jesus Cristo.
Jesus Cristo é o único sucessor do sacerdócio de Melquisedeque,
feito sacerdote não segundo a ordem de Arão, que teve vários sucessores, mas
segundo a ordem de Melquisedeque a qual permanece para sempre
na pessoa de Jesus Cristo que ressuscitou e vive para interceder.
10
fatos intrigantes sobre Melquisedeque da Bíblia
Aqui
está uma grande lista de coisas que a Bíblia nos diz sobre um de seus
personagens mais difíceis de soletrar.
1.
Apenas três livros da Bíblia mencionam Melquisedeque
Os
livros em que Melquisedeque é mencionado são Gênesis, Salmos e
Hebreus.
O
relato de Gênesis apresenta Melquisedeque perto do início da história de Abraão
(mais sobre isso mais tarde). Melquisedeque é
apresentado como rei durante o tempo de Abraão.
O
Antigo Testamento silencia sobre ele até o livro dos Salmos, que faz alusão a
ele ao descrever um sacerdócio real. Este é provavelmente um bom sinal de
que a figura de Melquisedeque manteve algum significado religioso para os
descendentes de Abraão.
Muito
mais tarde, no livro de Hebreus, Melquisedeque é mostrado como um estudo de
caso para o sacerdócio de Jesus.
2.
O Novo Testamento diz mais sobre Melquisedeque do que o Antigo Testamento
Melquisedeque
é mencionado pela primeira vez no Antigo Testamento, então você pode esperar
que o AT tenha mais a dizer sobre ele do que o NT. Mas não é assim que se
sacode.
Comparado
com o Novo Testamento, o Antigo Testamento não diz muito sobre
Melquisedeque. Seu papel na Bíblia ocorre em apenas alguns versículos em
Gênesis, mas o autor de Hebreus desvenda seu significado em grande detalhe.
Só
para dar alguma perspectiva, o nome de Melquisedeque é mencionado 10 vezes na
Bíblia: uma vez em Gênesis (Gn 14:8), uma vez em Salmos (Sl 110:4), e o resto
está em Hebreus.
Ou,
em outras palavras, os escritores de Gênesis e Salmo 110 nos dão quatro
versículos sobre Melquisedeque. O autor de Hebreus passa todo o capítulo 7
discutindo seu sacerdócio.
3.
Melquisedeque viveu durante o tempo de Abraão
Conhecemos
Melquisedeque pela primeira vez logo após uma das histórias menos famosas de
Abraão na Bíblia.
Depois
que Deus chamou Abrão de Ur dos Caldeus (mas antes de seu nome ser mudado para
Abraão), o patriarca se encontra em uma situação interessante: seu rico
sobrinho Ló foi sequestrado.
Quedorlaomer,
o rei que controlava as cidades-estado da região, estava conquistando o mundo
próximo. Enquanto ele está em matança, cinco dos reis vassalos de volta
para casa se rebelam – incluindo o rei da cidade de Ló. Como você pode
imaginar, Chedorlaomer não está muito feliz em voltar para casa e ver que os
ratos estão brincando.
Então
Chedorlaomer leva os cinco reis rebeldes a se esconderem, depois pega os
despojos da cidade de Ló Infelizmente para Ló, sua família e rebanhos são
parte dos espólios de guerra de Chedorlaomer. Então Chedorlaomer faz de Ló
seu prisioneiro e segue em frente.
Mas
Abrão não está muito feliz com isso. Então ele leva 318 guerreiros
treinados, derrota Chedorlaomer em batalha e leva Ló (e os despojos) de volta
para Canaã com ele. É neste momento que
Melquisedeque encontra Abrão e o abençoa.
4.
Melquisedeque não tem família registrada
Os
judeus eram todos sobre genealogias – não acredite na minha palavra: leia
Primeiras Crônicas. No entanto, Melquisedeque não tem nenhum. Não há
Melquisedeque, filho de Fulano de Tal. Nenhuma menção a uma
mãe. Nenhuma menção a um filho. Não realmente nada.
O
autor de Hebreus faz um grande negócio com isso. Ele contrasta o
sacerdócio baseado na linhagem de Arão com Melquisedeque, que não tem registro
de nascimento ou morte ou qualquer coisa (Hb 7:3, 8).
É
aqui que a discussão sobre Melquisedeque fica realmente interessante e vai em
muitas direções diferentes. Ele era apenas um
homem justo? Uma aparição de Jesus antes de nascer na carne (chamada de
“teofania”)? Um anjo enviado para governar a cidade de Salém?
Claro,
isso não é realmente o ponto do autor. O autor de Hebreus está mais
interessado em exibir o sacerdócio superior de Jesus aos cristãos hebreus
convertidos.
De
certa forma, os padres são intermediários humanos. Eles servem aos deuses
em nome dos humanos, e humanos em nome dos deuses. Isso geralmente
significa que os sacerdotes são mantidos em um padrão diferente dos outros
humanos – para que possam ser ritualisticamente puros o suficiente para
interagir com seres divinos. Os livros
de Êxodo e Levítico nos dão uma boa visão de alguns dos
requisitos que Deus e Moisés tinham para os sacerdotes hebreus.
Não
temos certeza exatamente que tipo de rituais Melquisedeque realizou – mas
provavelmente é seguro assumir que abençoar as pessoas em nome de Deus foi um
deles, porque …
6.
Melquisedeque abençoa Abrão
Abrão
acaba de voltar de derrotar quatro reis em batalha, e Melquisedeque traz pão e
vinho para o herói. Então Melquisedeque abençoa Abrão:
Bendito
seja Abrão do Deus Altíssimo,
Possuidor
do céu e da terra;
E
bendito seja o Deus Altíssimo,
Quem
entregou seus inimigos em suas mãos. (Gn 14:19-20)
Melquisedeque
reconhece que Abrão se alinhou com o Deus acima de todos os outros
deuses – e abençoa tanto Abrão quanto seu Criador mútuo.
7.
Melquisedeque é o rei de Salém
Salém
era uma cidade-estado na terra de Canaã. “Salem” significa “pleno,
completo, seguro, inteiro, pacífico”. 1 (Não confundir com selá,
que tenho certeza que significa “solo de harpa no ar”.) de outro Príncipe
da Paz que conhecemos ( Hb 7:2 ).
Isso
é interessante por alguns motivos. Lembra de toda a rebelião com o rei Chedorlaomer
que começou essa bagunça? Bem, Chedorlaomer tinha três reis leais ao seu
lado e cinco reis desleais lutando contra ele. Cada um desses reis parece
ter governado algum tipo de área de cidade-estado – mas adivinhe qual cidade
nunca entra na briga?
Salem. A
cidade parece fazer jus às partes “seguras” e “pacíficas” de seu nome.
Isso
também é interessante porque a antiga cidade de Salém mais tarde se torna
conhecida como Jeru -salém – que é onde ficaria o templo de Deus
que Salomão construiu.
Você
pode ver como o autor de Hebreus estaria especialmente interessado em conectar
Jesus a Melquisedeque. Jesus é filho de Davi, o rei de Jerusalém. E
Jesus é o sumo sacerdote de uma nova aliança — assim como Melquisedeque era um
sacerdote.
8.
O nome de Melquisedeque significa “rei de justiça”
O
autor de Hebreus traz isso em seu argumento para a grandeza de Cristo (Hb 7:2). O
nome vem de duas palavras hebraicas: malak (rei, governante) e sadaq (justo,
justo, inocente). É um nome bem legal.
9.
A ordem de Melquisedeque é real e eterna
O
Salmo 110 é uma profecia messiânica que nos diz duas coisas que Deus prometeu
fazer por Jesus: fazer de Jesus o rei em Sião e
fazer de Jesus um sacerdote.
O
Senhor jurou e não se arrependerá,
Segundo
a ordem de Melquisedeque.” Sl 110:4
E,
claro, a permanência da ordem sacerdotal de Melquisedeque é muito importante
para o autor de Hebreus, já que Jesus é o grande sumo sacerdote ressuscitado da
nova aliança entre Deus e o homem.
10.
Melquisedeque era maior que Abraão e Arão
O autor
de Hebreus argumenta que quando se trata de seres humanos realmente
notáveis, Melquisedeque supera Abraão (Hb 7:7) tanto que Abraão deu a
Melquisedeque um dízimo de todos os despojos que Abraão recolheu em sua missão
(Gn 14:20; Is 7:4). E se Abraão olhou para Melquisedeque, e Aarão
olhou para Abraão, isso coloca a ordem de Melquisedeque bem mais alto no totem
do que o sacerdócio de Arão.
CONCLUSÃO
Diante
do que vimos neste estudo, percebe-se que Melquisedeque teve um caráter
exemplar, digno de imitação por todos os cristãos. Seu sacerdócio tornou-se
tipo do sacerdócio de Cristo: santo, perfeito e eterno - "Porque dele assim se testifica: Tu és sacerdote
eternamente, segundo a ordem de Melquisedeque" (Hb.7:17).
Melquisedeque morreu, ainda que não se saiba quando e como; Cristo também
morreu, mas ao terceiro dia ressuscitou e vive eternamente. Desejosos,
aguardamos a sua vinda para nos levar e vivermos com Ele e O servirmos por toda
a eternidade (João 14:1-3). Ora Vem, Senhor
Jesus!